sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A beleza da poesia é o feio dos c,egos

Ele tinha o rosto todo transfigurado, feio, bem feio, por assim dizer. Sendo assim, eu sempre imaginava seu coração batendo. Ele era, então, um coração que batia; até o dia em que visse, em toda sua face, apenas a beleza da vida sem contornos - o próprio coração que pulsa. Tenho em mim superficialidades, e as odeio da mesma forma que ama-se os defeitos com ódio. Eles têm me sustentado e derrubado, Clarice. Mas são meus, e tenho precisado de algo externo para me sentir segura. Algo externo sem deixar de ser interno. Ter uma não posse. Dentre o nada o tudo, e dentro. Respiro uma atmosfera triste e primitiva, mas pode ser que seja drama (pois há o colorido na transparência do ar). Ah, salve o drama que nos salva! Eu sei, sinto-me roubando seu nome às vezes, Haia – mas não é isso, (tenho o seu no meu), é porque também sou vida e toda a poeira cósmica, também sou estrela e também o és – principalmente nas noites solitárias em que o céu é abrigo, mas cela. Livres, selamos nossa solidão. Sou tão errada na minha insistência de dizer que sei, eu sei, mas sou. Ele disse adeus e eu aceitei. A beleza da poesia é o feio dos c,egos. É o feto que morre vivo, sem hesitar. E vai embora. E eu aceito o inacabado.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pressa


Tempos de comer o bolo quente

De engolir a bala

da arma

que dispara

no coração

o coração

e mata

e desata os nós


nos-
SOS tempos

de andar disparado

sem olhar

para os lados

e o céu

seu
tempo

sem tempo
para respirar
pirar
pirar
pirar
pirar
pirar
parar

a gota de suor estática nas testas franzidas

que não cai

caio

caio

Caio

pensamentos rápidos

e cinzas

olhares sem direção

sem dizer

são

São?

o quê?
(insanos)


Cidades lentas

Para entender

Velocidades

Rodam
Rodam
Rodam
Rodam
Rosas

Que não posso ver

brotar


Preciso

Queria dizer

Algo mais

Mas