quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Nostalgia e tal. E nós?



......Algumas vezes, precisamos fugir de nós mesmos, matar nossos medos, viver nossos desejos, sentir a doçura do sorriso, o frescor do vento, o gosto do beijo... Precisamos enxergar o amor, sentir o amor, viver o amor...


.....Acordou. Os raios do sol já entravam pela janela de seu quarto (que agora ela abria, desajeitada, um quase mau-humor bem humorado). Ela riu de si mesma, inerte.
Era bom acordar e sentir o vento, o calor do sol, era bom saber que estava vivendo, sem ao menos saber quem era. Deixou suas dores escondidas embaixo do travesseiro. Sabia que viriam buscá-las e no lugar deixariam sorrisos. Podia sonhar...
Então foi flutuando até o banheiro, uma melancolia bonita.
Estava diante do espelho. Sentia a dor no peito. Viu na imagem refletida seus olhos cobertos de mistérios, sua boca entreaberta. Suas narinas revelavam a respiração ofegante. Lavou seu rosto. Saltitava de olhos fechados em um campo verde, sorrindo, cheiro de cereja. Leveza, leveza... Levou
No ralo escorria toda dor e poeira que cobria sua face. Água no rosto. Ela escorria pelo ralo. Gritou tão alto que o som da sua voz ecoou. Foi como ventania lá fora, havia cores, havia fumaça, havia fome.



.....Descobriu-se frágil quando se viu sem proteção, sem afeto, sem pai nem mãe nem irmão. Desfigurou-se. E a imagem no porta-retrato do seu quarto retrata agora apenas uma felicidade inventada e as faces e os segredos e as verdades não contadas... Memórias indeléveis.

.....A saudade doía. A falta do afeto e do carinho que estavam distantes. Não sabia para onde ia, sua mente inerte. Não esperava compreensão de ninguém. Afinal quem sentia as dores que ela sentia em seu coração? Segredos e histórias que nunca serão reveladas. Em seu olhar estão escritos seus mistérios. Seu sorriso revela a força de sua luta por uma liberdade reinventada.


.....Carregando no peito uma dor que sabia que nunca iria ser curada. Trazia consigo lembranças cinzas, e sentia o cheiro das flores mortas que ficaram ao chão. Cacos pontiagudos perfuravam seus calcanhares a cada passo incerto. E ao perceber o mundo, percebeu que não existia o certo. E ao perceber o absurdo, correu...
.....Corria em um passo acelerado, seu destino era duvidoso, seguia seus sonhos, desvendava suas senhas, e desses tantos medos, e desses tantos modos... Descobriu a vida, descobriu-se viva.

Caia, mas havia força para levantar. Chorava, mas sorria ao olhar o amigo sorrir. Cantava e o som da sua voz parecia fluir, pois sabia que alguém estava ali. Era amada.
Chorava, mas sabia que podia sorrir. Sorria, mas sabia que podia chorar.
Sabia que podia. Tinha sonhos, criava sua felicidade, matava seus demônios.
E a saudade, e a saudade... Já não tinha mais nome, ultrapassara qualquer significado limitado. E amar, e entregar-se ao acaso, viver o agora, não foi nenhum pecado. Queria livrar-se do passado. Tinha a certeza da incerteza do depois. E ao anoitecer queria apenas sentir seu coração batendo e sua mente sorrindo, seus olhos olhando em outros, mostrar seus sentimentos contidos. E os olhos brilharam em direção ao céu, as nuvens pareciam correr, o mundo girava tão depressa, não conseguia distinguir as formas, as cores, os cheiros, os movimentos, o vento refrescava seu rosto. Lembranças do que viveu... Sorrisos, lágrimas jogadas ao léu.

..... Seu viver estava na mão que estendia aos amigos, no abraço daquele que a completara, na presença da mulher que lhe trouxe ao mundo. Na certeza de ser amada.
Amar a si mesmo é um modo de ser amado também.


.....Esqueceu por um segundo do seu passado ensangüentado pela falta de amor, esqueceu daquele que deveria cobri-la quando sentisse frio e deixou um sorriso amargo em seu rosto quando não a contava histórias pra dormir e sim mentiras que a feriam, que ainda fazem doer.
E eles caminhavam de olhos fechados em um campo verde, ela passava a mão nas flores, seus cabelos balançavam ao vento, ela sorria, as lágrimas escorriam de seus olhos. Silêncio. Ela esta apenas sonhando.



....Apesar do caminho impetuoso que percorrera ainda havia brilho em seus olhos. Havia a vontade de ajudar, havia o amar estampado em seus dentes ao sorrir. E na presença de um amigo, e na expressão de um sorriso, e na lucidez e na loucura dos seus sonhos... Estava o segredo. Estava o amor.

.....Acordou em frente ao espelho. Sufocada, colocou a mão dentro do seu peito.
Com as mãos cheias de sangue, o rosto sem expressão, atirou sua dor contra sua imagem refletida. Barulho de cacos. Gritou. Gritou com toda a sua força.
Silêncio. Ela sorriu banguela. Deitou em seu travesseiro que guardava sorrisos.
E sentiu um beijo no rosto.