quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

cada vírgula é tão vasta que nada cabe nela

e, ainda assim, preenche infinitudes

desvirtua o ainda não de tudo
vazia, transborda o amanhã no agora
e interroga o incompleto que amanhece 
do ventre de uma cadela 
que do sempre padece no nunca
nua
numa esquina
de qualquer rua
que ainda virá(r)

domingo, 20 de janeiro de 2013

a palavra voou folha como se fosse outono, e deitou lentamente ao chão, como se o dia não fosse outro

domingo, 13 de janeiro de 2013

talvez agora seja o momento em que o tempo já não é 
(liberta-ação)

domingo, 6 de janeiro de 2013

Pela manhã, facas e curvas

Então, sem resistir, eu puxei. Aquela vida congelada piscando, porém neutra, queimando invisível, eles não querem ver, incomodando, chamando-me, pedindo-me libertação. Eu era aquilo. Farelos, restos, livres excreções, simbólicas últimas páginas, o azul sangrando para poder tornar-se vermelho, a decisão de descansar sua alma em um piscar            e ter no           em frente ao espelho. Com a ponta dos dedos, com a delicadeza das curvas das serras da facas, sem comoção, os cílios parabólicos tocando as olheiras e captando insonias e sonos sonhos, sem a emoção contornada dos trailers, a pausa, sim, pausa no tempo, na palavra, o movimento morou no intervalo, eu a toquei, tão depressa, tão procurando seu ponto em que eu pudesse me apoiar para retirá-la sem que ela sentisse meu toque (e ai,  quem sabe, a vontade de permanecer), sem que houvesse alguma possibilidade além de ir. Se cê tem que, vai! Descascar a alma.  Ir tem a beleza dos pássaros fazendo seus ninhos em tudo que denominam velhos. Os caminhos, para os quais seguirá, possuirão as curvas das rugas dos ovos. E não haverá julgamento sobre o impulso de minhas mãos limpas escorrendo ácido de fruta doce. Ira,lém. Vaga-lumes se instalavam ali, naquela vida dura. Eu não consigo, então, ter a certeza de que você existe. Eu me confundo na sua instabilidade. Você realmente brilha ou é alucinação? Eu criei sua luz para me proteger do escuro? Ou você sempre esteve acesa, mas meus olhos opacos piscam vivos. Isso torna tudo mais bonito, tudo mais Nada, mais nitidamente translúcido. E difícil.  E podemos, portanto, dançar voluptuosos sem ninguém notar. Eu nunca só olhei por tanto. Pode mostrar seu pé esquisito, seus dedos fáceis com formatos de vasos de flores, pode pisar no prego enferrujado plantado por minha incompreensão, pode deixar rastros bonitos e abstratos e livres e  vermelhos no chão de mim.  Perdemos, porpouco, a vontade de ficar. Não posso ser árvore. Nós podamos os apoios. Minha pele está descascando. Nos ombros, nas costas, na face, no peito, nós. Eu inteira sou desintegração. Mas não tronco. Completam-se sete dias. Eu a puxei. E tudo foi ficando mais vivo, puxando puxando puxando, fincando mais a leveza, a carne viva. Menos cutículas, minhas digitais sentindo o peso da transparência morta. Assoprei aquela pele estática, com a textura de uma asa de inseto, queimada pelo sol e solidão, e ela se foi com o vento e o tempo que a habitava. Nas suas reentrâncias, moravam segundos secretos, entre suas células, momentos torcidos, lágrimas secas, vento guardando cípselas,  o toque de mantas, mãos, matas, mares e mães e manhãs úmidas. vermelho marinho, azul tinto, para mergulhar a carne viva e crua na água salgada (ah, a dor refrescante do infinito), nadar no por do sol vindo com suas laranjas maduras para o café da manhã...

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

eu lhe desejo liberdade. Pega ela e se vira! se amassa, se desdobra, se sente, se arrepia, se deseja, se doa, se desata, se seja, sê asa e se vá pronde quiser. e permaneça em si.

davi uns fodido amado

Davi fumava uns. Não abria as janelas enferrujadas do quarto no domingo, respirava o cheiro de bebida e cigarro impregnado nas partículas de oxigênio e pó, o mesmo da roupa, geralmente preta, a qual só tirava no dia seguinte, quando tomava banho, pra ir à rua novamente, e comia o resto dos almoços da semana numa louça suja e coca cola no copo de tomate trincado e com o resto da cerveja quente que não quis beber. Partiu pra vodka no gargalo, como um bom ninguém. Shampoo não usava, sabonete basta, não vem me dizer que não, caralho. Achava até bom essa coisa de carne dura meio verde, orelha gelada do frio, se enxugar com a toalha úmida de ontem, ou não, tanto faz, não era dessas coisas, não era um desses que achava ou sentia alguma coisa dizível ou entendível ou que faça a diferença na vida de alguém, de coisas. Davi jogava o cigarro na caneleta da rua. A rua, com ressaca da chuva nossa de cada diamém, levava a bituca pro boeiro, que fedia. Mas, e daí? Fedia, diziam as meninas que se sentavam ao meio fio pra esperar, pra conversar sobre a última transa, sobre a merda que é estar naquela porra de família egoísta, pra beijar os meninos ou quem vier sentar ao lado, ou puxar pela mão, puxar pelos cabelos também, não tá fácil, pra esperar, sei lá o quê. Mas pra esperar. Eu tô indo indo embora, Leila, tô indo. Um relógio fodido, com uma pulseira de couro gasta e fodida, Davi fodido tictaqueava, olhava vitrines fodidas, quase nenhuma, ignorava os olhares das donzelas mal comidas, e andava nem aí, nem aí ó, com sua bota com meia furada e seu bom, apesar de antigo e desbotado, jeans. geaaanz sujo de porra sei lá de quando. Mas bom mesmo é esmagar o cigarro acesso findando no pulso ou na toalha de mesa, ou no farelo de pão em cima da toalha, ou no cinzeiro de madeira herdado do tio de longe da puta que pariu, ou jogá-lo no resto de cerveja quente que ninguém quer tomar. Davi já tomou com cigarro e tudo. No cú, já tomou no cú! Pra esperar. A bota, o dedo fora da meia, pisava numa lajota solta da calçada. aquela água porca sujava sua calça. que moderno, ein. Modernidade, palavra colorida, exata, dúbia, tecnológica, velha. ein? surda, velha surda, pode morrer, tô indo embora, cansei dos teus gemidos, tuas dores tão pontuais, teus roncos, teu sono pesado e fedido e esse cheiro de sebo, teu passo lerdo sobre esse chão de madeira e essas tábuas velhas rangendo, vai te foder e depilar esse bigode branco e nojento. não aguento mais ver esse peito caído nesse sutiã mole, esse varal balançado essas roupas largas verde musgo, bordo, marrom nesse jardim pra mato e anão de gesso e grama fina. Benzinho, Davi, do hebraico, significa O Amado. "Muito atencioso, e apegado à família possui um senso maternal muito forte, é o tipo de pessoa que gosta de se sentir útil e necessário, com isso chega a assumir mais responsabilidades do que realmente pode suportar. Não costuma voltar atrás em suas palavras. Muito ocupado, raramente se permite algumas horas livres para o lazer. Mas deve tomar cuidado em não se tornar dependente ou infantil ao extremo, para isso não deve se pendurar nos outros." (fonte: Google) Sentido nenhum. Davi deveria ser chamado de Fodido, palavra mais sem significado. se é que existe algo além da ausência. Cuidado Davi, deve tomar cuidado. Esse trânsito é muito perigoso para pedestres com ray bans escondendo olheiras e lábios ostentando cigarros, bolsos guardando masso deles amassados e uma nota de vinte meio mole e velha um pouco rasgada e amassada, que que tem a ver, para qualquer um que quer se sentir ameaçado por qualquer coisa. Ele atravessava a rua fora da faixa, excitante. que babaquice, fodido. lendo um livro num banco de cimento. onde eu jogo essa bituca. lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa.