domingo, 6 de janeiro de 2013

Pela manhã, facas e curvas

Então, sem resistir, eu puxei. Aquela vida congelada piscando, porém neutra, queimando invisível, eles não querem ver, incomodando, chamando-me, pedindo-me libertação. Eu era aquilo. Farelos, restos, livres excreções, simbólicas últimas páginas, o azul sangrando para poder tornar-se vermelho, a decisão de descansar sua alma em um piscar            e ter no           em frente ao espelho. Com a ponta dos dedos, com a delicadeza das curvas das serras da facas, sem comoção, os cílios parabólicos tocando as olheiras e captando insonias e sonos sonhos, sem a emoção contornada dos trailers, a pausa, sim, pausa no tempo, na palavra, o movimento morou no intervalo, eu a toquei, tão depressa, tão procurando seu ponto em que eu pudesse me apoiar para retirá-la sem que ela sentisse meu toque (e ai,  quem sabe, a vontade de permanecer), sem que houvesse alguma possibilidade além de ir. Se cê tem que, vai! Descascar a alma.  Ir tem a beleza dos pássaros fazendo seus ninhos em tudo que denominam velhos. Os caminhos, para os quais seguirá, possuirão as curvas das rugas dos ovos. E não haverá julgamento sobre o impulso de minhas mãos limpas escorrendo ácido de fruta doce. Ira,lém. Vaga-lumes se instalavam ali, naquela vida dura. Eu não consigo, então, ter a certeza de que você existe. Eu me confundo na sua instabilidade. Você realmente brilha ou é alucinação? Eu criei sua luz para me proteger do escuro? Ou você sempre esteve acesa, mas meus olhos opacos piscam vivos. Isso torna tudo mais bonito, tudo mais Nada, mais nitidamente translúcido. E difícil.  E podemos, portanto, dançar voluptuosos sem ninguém notar. Eu nunca só olhei por tanto. Pode mostrar seu pé esquisito, seus dedos fáceis com formatos de vasos de flores, pode pisar no prego enferrujado plantado por minha incompreensão, pode deixar rastros bonitos e abstratos e livres e  vermelhos no chão de mim.  Perdemos, porpouco, a vontade de ficar. Não posso ser árvore. Nós podamos os apoios. Minha pele está descascando. Nos ombros, nas costas, na face, no peito, nós. Eu inteira sou desintegração. Mas não tronco. Completam-se sete dias. Eu a puxei. E tudo foi ficando mais vivo, puxando puxando puxando, fincando mais a leveza, a carne viva. Menos cutículas, minhas digitais sentindo o peso da transparência morta. Assoprei aquela pele estática, com a textura de uma asa de inseto, queimada pelo sol e solidão, e ela se foi com o vento e o tempo que a habitava. Nas suas reentrâncias, moravam segundos secretos, entre suas células, momentos torcidos, lágrimas secas, vento guardando cípselas,  o toque de mantas, mãos, matas, mares e mães e manhãs úmidas. vermelho marinho, azul tinto, para mergulhar a carne viva e crua na água salgada (ah, a dor refrescante do infinito), nadar no por do sol vindo com suas laranjas maduras para o café da manhã...

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