segunda-feira, 23 de março de 2009

A chegada da partida


............No meio de tantas coisas que não posso escolher, que eu não posso mudar... Eu escolhi assumir que eu também posso errar, que eu posso perdoar. Eu escolhi construir escadas ao invés de dormir enquanto cavam meu buraco cada vez mais fundo. Eu escolhi ver a riqueza das coisas simples. Eu escolhi sentir. Eu escolhi sorrir. Eu escolhi amar. Eu escolhi tentar. Eu escolhi ser.
..........Eu escolhi enfrentar todos meus sofrimentos, a continuar seguindo com dor no peito. Eu escolhi ser forte. Eu guardo segredos. Eu te falei das coisas boas e escondi minhas tristezas. Eu quis sorrir uma vez mais. Eu quis esquecer da frieza do antes, da frieza. Eu quis sonhar. Eu te falei das flores, das cores...E o que eu não falei, meus olhos mostraram. Ai a necessidade de olhar nos olhos, que me olhem nos olhos. Mas eu continuo... A chuva não cai só sobre mim. Eu escolhi partir mesmo sem saber onde vou chegar. Eu estou partindo sempre, eu estou chegando sempre. Eu estou seguindo...Você vai ouvir meus passos. Eu te falei das cores...


..............Eu escolhi as cores mais bonitas, os balões teriam de ser coloridos! Nas cores eu levava as lembranças dos sorrisos, dos amigos, dos olhares, dos abraços, dos risos, dos saltos, dos sonhos, dos sons, dos ‘sim’, dos carinhos, das conversas, dos lugares, das loucuras, dos beijos, dos doces, das madrugadas, das noites, dos dias, das cartas, do amor, do céu, do sol, das estrelas, do mar, daquilo que não se pode comprar...
..............Eu escolhi um lugar bonito, eu mesma o fiz! No lugar dos prédios, pintei árvores, no céu pintei o sol, do sopro fiz o vento, do cimento fiz a grama, e das faces tristes das pessoas eu fiz borboletas, e elas voavam livres. E eu estava no meio desse cenário real imaginário, eu estava rodando, olhando pro alto, e eu sorria, sim! Eu pintei um sorriso no meu rosto e das minhas lágrimas fiz a poça pra molhar os meus pés descalços. Era o lugar da minha partida, este. E era lindo! E eu era uma criança. Usava um vestido vermelho e os cabelos soltos, gostava de ver a sombra deles balançando livres ao vento, e o vento trazia um cheiro doce de goma de mascar. E os meus braços abertos (livres), e o meu rosto (livre) sorrindo, e o meu peito aberto mostravam que eu era o amar. Livres...Liberdade, liberdade! Eu sorria, então. Eu retratava a felicidade. Eu gostava de sonhar.
................Eu escolhi sonhar. Enquanto eu fechava os olhos, os balões iam se enchendo, não com ar, mas com lembranças de tudo que colocava cor no meu mundo, como se elas me fossem vitais como o ar que eu respiro. E quando abri meus olhos, tinha em mãos minha bagagem, os balões coloridos. Neles estavam tudo o que eu precisava pra partir, eles que me fariam voar. E existia em mim a necessidade de voar, de me sentir livre. E no lugar da minha despedida não havia ninguém, mas havia ‘todo mundo’ do meu mundo em mim. Uma solidão quase bonita. Eu corri sentindo o sol, o vento...Eu estava leve, estava livre. Eu estava sorrindo. Andei até cansar de sentir meus pés no chão. Cansada, coloquei as mãos no bolso e dele tirei um saquinho, ele era florido. Abri lentamente, retirei sua fitinha roxa. Dentro havia sementes coloridas. Cavei com as mãos um espaço na terra e coloquei-as. Havia algo de mágico nisso. Mesmo sem saber o que estava por florescer. Meus olhos encheram-se de lágrimas, mas eu estava sorrindo. Eu estava indo...Com a mesma fitinha roxa, amarrei os balões e segurei-os com firmeza. Tirei meus pés do chão.

............Eu escolhi voar alto. Enquanto subia, via aquele mundo que eu havia pintado ficar pequeno, distante...Eu sabia que eu era distante do mundo. Eu vivia em um mundo paralelo, era um mundo ‘paramim’, como um refúgio...Como se eu não pertencesse a lugar nenhum, a ninguém. Eu era dona do meu próprio mundo. Então eu parti, pois não importava onde eu estivesse, eu estaria vivendo em outro mundo, um mundo dentro de mim.

..........Quanto mais eu voava, mais os balões se enchiam. Mais pensamentos, mais lembranças habitavam o meu ser. E essa era a minha essência. Meus balões aparentavam fragilidade e leveza, mas eram cheios de sonhos e fortes como eles. Eu nasci para voar...
Minhas sementes coloridas cresceram. Cresceram alto, pois eu estava tão alto quanto os meus sonhos. E elas foram até mim, de modo que não precisei soltar meus balões, não precisei parar de voar...As minhas flores cresceram. Elas tinham cheiro de infância e eram donas de uma beleza singular. Eu sorria doce e era dona dos mistérios do meu olhar. Eu flutuava entre as flores, e nos meus balões havia a lembrança das pessoas que eu amava, os sorrisos e os sonhos delas, havia minhas doces lembranças. Nos meus balões havia cores.
As cores do meu mundo. Eu não te falei das dores, isso eu oculto.
...............................................Eu te falei das cores, eu te falei das flores...Isso é muito mais bonito.

PS: inacabado, pois ainda estou segurando meus balões e não sei o desfecho da minha história, não sei quão alto ainda vou voar... Mas eu vou chegar lá. E o lá é incerto.
Mas meus sonhos são tão certos quanto o calor do fogo...Eu ainda estou vestida com meu vestido vermelho e meus cabelos ainda voam ao vento...porque
eu escolhi não desistir!

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