terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Meu armário é uma gaveta de verão

Sou menina assim: uso meias um pé de uma, um pé de outra. Com furo no dedão, ou no calcanhar, não faz mar. Eu fico achando tudo bonito. Até o que dói devagarzinho. E se quebra com as ondas em pedacinhos que se põem junto ao sol entre os meus pés descalços.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Levei uma pena na bagagem e me voei




À minha irmãlma e amiga,
..............................................Jz.


Eu o comprei. Apesar da pré-visão que proporcionou, além de aos meus olhos, ao meu estômago. Não sou lógica, apesar da massa encefálica gorda. Ele tinha cara de vômito, gases e cólica intestinal. Emagrece. Sanduíche de atum de rodoviária é a vida, às vezes, quando eu sou o beco, a lata de lixo enferrujada, o resto da carne de um animal que ninguém quis mastigar misturada com farofa e maionese fermentada e beronhas. Eu paguei por isto. Para sentir suas asinhas agonizantes dentro de mim junto com o que apodrece e sobe a garganta e não sai pela boca. Mas aprisiona-se nos olhos. E eu nunca estive cega. Eu sempre fui. Estou indo,

Eu estou no caminho certo? É só seguir até o batalhão e seguir à esquerda. Obrigada, nunca quis ser direita e vou lutar. Eu vou até lá com você. Eu mordi duas vezes a minha língua, desculpe o jeito que eu falo, é o bruxismo. Você não é daqui? Eu babo à noite. Sou de lá. Também morei lá. Cheguei há pouco. O que você faz? Vou começar medicina. Eu já fiz medicina também. Mas eu vomitava muito. Vomitei um mês inteiro. Emagreci. Ai, fui para os Estados Unidos e me formei em Direito na Flórida. Legal. Eu não suporto ver gente morta. Meu pai morreu há um mês – fui lá, dei uma olhadinha e já fui embora. Eu já nem sei quando foi que meu pai morreu no meu olhar, só sei que ele foi embora. Eu também faço teatro lá. Legal, eu também já fiz teatro. Sou assistente de um advogado e assessor de um desembargador. Legal. Não se preocupe porque eu sou gay. Eu nem ganho muito. Mas é o poder. É só por estar lá, ? É. Vou ficar em um bar com uns amigos, ai você continua. Eu sempre vou. Fui casado 6 anos com um americano. Oito com um alemão. Já eu nunca fui nada de ninguém de algum lugar. Acabou, ai vim pra cá. Mas eu tenho um apartamento lá. Eu não tenho quase nada assim, nem me dói, eu nunca acabo. Aqui é o bar, eu vou ficar. Eu vou seguir sã, muito obrigada. Prazer em conhecê-la. O prazer é meu! – eu nunca vou estar lá, pois não me conheço.

Não chego a tocar no hedonismo. Eu não tenho tempo, sou atemporal. Cinco minutos quebrados para descobrir uma vida inteira e me acobertar com o desconhecido. Estou segura com as folhas voando secas, telhas quebrando pra ninguém concertar, o vento me levantando e fazendo voar. Meu temporal vai lambuzar o caos com carne mofada. Jozi, eu vou a pé!

Na rodoviária eu tive um nada assim: um sanduíche que eu mordia assustada. Meus olhos são tão grandes devorando o miúdo do mundo. Vou explicar: eu mordo o pálido, o branco dos meus dentes penetra no morto e vai fazendo brotar vermelho vivo. Limpo com um guardanapo usado o sangue seco no canto da minha boca que ninguém ousou tocar. O canto de mim é uma selva que ninguém colocou os pés descalços. Eu canto um passarinho amarelo. Você dá medo, porque é uma floresta. Nada me resta a não ser ser sozinha tudo. Não ser é o resto que eles comem. Eu não suporto gente morta. Apesar de eu mastigar o estragado e engolir doendo e com os olhos molhados. Meu doce rosto é tão salgado. Nenhuma saliva experimentou porque sou tão verde e úmida. E o sol é um olho ardendo em mim.
Minha nuvem corre no chão...

Danço uma música cantada por um par de asas depenadas. Bem peladinhas. Tapem suas vergonhas com as mãos! Selvagens nus com sapatos de couro de animal mastigado. Água ajuda na digestão. Estava com um livro nas mãos lendo um machado na cabeça de uma mãe, mas a paisagem lá fora me fez marcar a página e observar através da janela do ônibus: o céu estático e o chão correndo de mim em mim. Água para matar a sede e apagar a marca. Meus olhos sentiam as montanhas e o sol se pondo do azul lá em cima para pousar nas cores aqui dentro, vermelhas talvez. Pode entrar, eu não tenho portas, só partidas. Tem café pra gente conversar nossos olhares. E, só pra passar vontade, bolachinhas vencidas.

É só pra passar a dor que a gente não vence. Pode me abandonar. Eu tenho uma pena na bagagem e músicas novas num velho rádio. Tocando em um violão sem cordas, eu descobri que a minha vida era ir para o mundo com o meu mundo coberto nas mãos. Apesar da noite, vesti meus óculos escuros. Sem acordes, eu dormi por cinco minutos.

Talitha, você é assim: seu vestido é uma bolha de desamor. Olha-la é uma pergunta: quem ama essa menina? Eu chorei no seu sofá colorido. Seus dedinhos pequenos tocaram nos meus olhos e eu chorei. Ator ruim nem água de cebola nos olhos salva. Seu tumtum tocou uma música nossa e dançamos juntas na madrugada. Eu sou sua filha e você é minha irmã.

Conhece? Não. Abre o livro e me lê. Você me vê olhando para o nada e descobrindo tudo. Quando as cores entraram na sua vida? Não sei, elas sempre vieram vindo. Mas não sei. Acho que foi quando tinha um palco e algumas luzes. Laranja e branco, depois vermelho e azul. E eu me esqueci do que acontecia e passei a me acontecer: meus olhos grandes ficaram maiores. Nossa, eu digo tanto “não conheço”. Você me empresta dois livros. E eu deixo uma poesia, uma peninha e uma concha achada e perdida, como nós. Não é a hora de dizer “é aqui”. Comprar um carro dentro de um CD nos faz voar de bicicleta. Sabia que tem estacionamento para ela? Não vamos parar, corremos nas veias com nossas plaquetas e infecções. Se eu fosse Paris, tatuaria a torre bem pequenapequenapequena na nuca quase cabelo ou no calcanhar. Mas não gosto de nada na pele. Pesa, ? Fiz uma estrela no pulso e apaguei. Hoje eu voo.

Desde pequena eu sou olhar pela janela e as imagens partindo rápido. Eu também. Eu lembro muito e lento. Sempre senti doendo desde que eu era grande. Jozi, eu sou tão pesada pra eles. Eu não quero. Eu preciso ir embora. Vá! Meu pai disse: a Talitha é tão leve que a gente se sente bem ao lado dela. Passa uma coisa boa! Meu pai escutou e passou correndo em um carro que não toca CD. Eu to descalça. Jozi, eu vou a pé! Vai! Eu vou voltar. Para me dizer que queria ficar lá. Eu sei. Eu não conheço. Você me acha medrosa? Não, sua mochila esta nas suas costas.



De frente você é um susto. Assim: eu criança era sempre banguela, ai meus olhos pararam um pouco de molhar e aprenderam a sorrir sem dentes. Mas algo escorria pelo rosto até meu dedinho do pé. O chão virava grama e nascia uma flor entre o dedão e o próximo. Desde então eu choro. E chove púrpura.

Vesti uma bolha porque não tenho teto. Fica bem em você. Como eles me abandonaram tão pequena? Se não houvesse abandono hoje você não seria tão grande. Sua nudez não cabe no bolso do jeans deles. Eu não quero ser só professora. Somos sós. Além do humano e do amor, eu quero fazer medicina para organizar minhas ideias e minha escrita ficar mais bonita. Eu me sinto fazendo cinema. Você vai ser rica. Eu devo um pouco para o banco. Você quer ser famosa? Eu quero pessoas me sentindo. Um dia você vai poder comprar todos os livros. Leva esse banco para sentarmos na beira da praia. É tão perto.

Você também sente que você é longe? Eu sou eu perante o mundo e o contrário parece-me verdadeiro. Vamos mergulhar porque eu não gosto de ficar torrando ao sol. Torradas são para o café da manhã do hotel. Vou contar uma mentira em inglês. E todos vão acreditar em mim, a estranha. E eu vou sorrir banguela, só pra impressionar. Expressionista que sou. A gente não tem nada a ver, mas somos tanto! Somos tão nós. Você com 36 e eu com 19 e poucos números e tantas palavras que comovem até mesmo um sofá imóvel, velho e furado. Nós somos um buraco. Você é para dentro. Por isso você vive engolindo as coisas de fora sem pensar. Imponha respeito. Estou cansada. Mas você anda tanto a pé.


Seu Antonio anda se questionando: não sabe qual é a fruta que mais gosta, nem o lugar que mais quer conhecer. Faz uma salada de frutas e engole, homem. Sente tudo dentro de uma vez. Sente em Paris. Eu corro me questionando: que cor terei amanhã? Sereia manhã. Você tem um lar. E essas paredes, apesar de paredes, são cores – pintam nosso vazio e constroem uma Via Láctea. Mas queremos o infinito. Ele resolveu, então, assoprar bolinhas de sabão para sempre.


Querem tocar o que não alcançarão. Deixe-me sentir apenas. Pode ficar aí com o que você não é, não precisa chegar perto. Eu chego longe fechando os olhos. Na bagagem, eu sou uma pena. Eu vôo leve no que você respira difícil... mamama mamama mamama mamá.

Amor magro.


Você não sofre por alguém, sofre pelo mundo e resolve ficar muda diante de tudo que lhe dá um soco nas vísceras. Até vomitar palavra úmida. Enquanto seu útero parece uma uva passa seca, você escolhe o nome dos pés descalços correndo na grama do seu jardim. Apesar de não poder compartilhar seu sangue, por ser raro, e nem poder aceitar transfusões por não serem compatíveis com o seu incompreensível. Nem poder nenhum para sua não posse de si mesma. Um dia serei uva verdinha e gorda para nutrir meu feto na nossa floresta fechada em nós e aberta para a vida. Tirar a polpa da fruta tirada do pé com nossas próprias mãos de filho e mãe. Temos medo da menina no ventre, que não será nossa. Se ela for eu, dôo-me duas vezes. Não sou minha. Doar-se pode ser a solução para a dor do parto. Partimos, pois não sabemos voltar. Voamos famintas cantando passarinhos que comem as pistas no chão para voarem melodias no céu amanhecendo virgem e alaranjado...


Amanhecer é loucura e amor. Amarelo e vermelho misturando-se na tela através dos dedos de um recém-nascido que ainda chora a vida. Imagine um ovo sendo quebrado em uma placenta: é o sol nascendo inteiro em mim.

Às vezes, ao acordar, a coisa mais digna que você tem a fazer é lavar o rosto, escovar os dentes olhando-se no espelho. Levar um pequeno susto com gosto de remelas. E eu tenho me esquecido. Em algum lugar. Abro os olhos e já corro. Ou, fico só sentindo a vida com o rosto seco, impenetrável, e os dentes rançosos. Ou. Não sou essa tristeza a qual as palavras têm refletido. Eu sou uma criança que gira com as mãos livres e canta sempre mesmo que para dentro. E sorri, apesar de banguela. Não tenho vergonha nem medo de tropeçar. Carrego nos olhos cores que permitem amanhecer sempre, mesmo sem sol. Pinto flores e pássaros nos calos de meus pés esquisitos com dedos que mexem sempre. Na lama, na grama, na alma pequena. Na poeira levantada pelos meus passos, flutua poesia. Nossa poesia é uma brincadeira.

O meu martelo são duas mãos tocando seus cabelos que começam a envelhecer. Fios branquinhos voando com o vento. Então, não poderei mais toca-la. Não quero que anoiteça sem que antes você escute a música tocada, em um piano roubado, por meus dedos compridos e amarelos. Poças na planta dos pés para você brincar em mim. Para eu poder tocar em nós e sermos cachoeira na minha floresta de gente nenhuma. Pegue-me nas mãos, engula-me, mesmo que doa, ninguém esta vendo, para que eu volte ao ventre nua e sinta seu toque, mesmo sendo na sua pele redonda. Para voltarmos puras com os olhos molhando vermelho. Eu gritarei quando você me der a luz. Escute-me! Ela me dada eu nunca mais soltarei... Soltamos as mãos para sermos duas meninas, filha e mãe, que se olham pelo retrovisor com olhos grandes e pesados.


Queria escrever mais complicado. Mas você é simples. Algumas palavras são tão difíceis e não cabem em mim. Já eu não tive nem o martelo. Ela nunca me deixou chegar perto e: ser-me devagarzinho. Foi uma martelada rápida na minha cabecinha. Mas eu não morri. Sente o peso disso? Escondo uma peninha azul no seu cabelo bagunçado para você ser passarinho. E assopro o cisco no olho para chorar menina e voar junto dele. Eu não caibo em mim.

Ainda não chegou a hora de dizer “é aqui”. Talvez nunca seja. Talvez sejamos de lugar nenhum, sem relógio no pulso, nem estrela. Eu vou ao Rio me ser um pouco sozinha comigo. Até lá! Eu vou a pé, mas vou voar pela primeira vez. A arte vive em mim desde que abri os olhos. O teatro compartilha o que eu sinto: pés descalços no palco. Você lá fora é tão dentro. Voltando você é lá. Essa é a história é uma amizade que começou com a poesia estourando plástico bolha em torno de nós. Indo somos sol. Ai, quando chegou a pele, tocamos na alma.

Uma música, só. Digo tanto “Ai, que bonito!” enquanto vivo. E eu seria sempre assim: olhos doendo captando o grande desconhecido da pequenez do mundo. Eu sereia sempre sim. A nota é dó. Um mar que cheira café sendo passado. Eu sendo presente, silenciosa. Com a paz de um cabelo branco voando feio. Enquanto eu morro montanhas.











Quando criança, não aprendi a amarrar os cadarços. Chamavam-me: burra. Tropeçava em um caminho torto feito só pra mim. Não ouvi ninguém me chamar, então não voltei. Cai demais. Ralei o joelho e pedrinhas entraram na palma das mãos macias. Corri, corri, corri. Mas elas permaneciam correndo em mim. De tanto doer, aprendi a fazer um nó nos sapatos. Mas eu permaneci parada desde então. Passei a ouvir um não. Mãos ásperas passavam pelos meus ouvidos e iam chegando aos meus olhos. Dei um passo. Caí no abismo. Chorei pétalas cinzas de rosas vermelhas. Com um espinho da flor, cortei o nó, como se cortasse o pulso. Jorrou sangue. O abismo transbordou e deixei-me ser levada. Você me esperava leve. E fomos.

A pena que me deu voou pela casa. Não a acho. Ela não pertence. Voar é ela. Na luz, é azul. Cortinas esvoaçando verão na janela de pano. Eu não consigo quebrar essa barreira criada com mãos que não são minhas. Então, pinto, no muro, cores de caleidoscópio com as duas que possuo e voo-me embora com asas de ninguém. Da criança: pontas dos pés em uma linha quase invisível no céu. Assopramos.


A infância é um pássaro depenado voando alto. Imagine uma chuva de peninhas coloridas molhando nossos cílios. Dentro de um automóvel veloz, seus braços para fora flutuando seus dedos tão calmos. As árvores têm folhinhas que são eu. Não ela inteira. Várias sutilezas, sem nenhuma estação.

Não conto os dias, eu só sei cantar. Desafino uma vertigem bem bonita para dançarmos com esmalte forte nas unhas. Canto noites sussurrando madrugadas suaves no seu umbigo. Você ri antes de sorrir depois. O sol é pós. E se pôs. Eu aceno: até sempre! Minha mão entra em mim e sacode tudo. Nossa matemática é um acerto breve à caneta. Somos rabiscos em um papel reciclado da árvore que vive sozinha na plantação de arroz. Em qual lado encontro seu amor?

Um vulto veloz jorrando água dos tornozelos nesse lugar de colher, com uma faca, sentimentos - o que você sente é uma criança correndo no seu arrozal no final da tarde. Ainda é cedo para essa rosa entardecer?

Eu me vi olhando em um cristal, Jozi. Porque você olhou nos meus olhos nus uma luz vestida de mim. Agora eu posso ter um lar para sempre. Dormirei em uma rede nunca presa em paredes. Jesus era Indigo, eu sou um cristal. As pontas dos seus dedinhos o colocaram na palma da minha mão. Eu permanecerei sentindo. E na alma, a solidão. O Menino nunca existiu, mas sentiu água nos pés. E eu, o que sentem? Levo-me na bagagem, eu me leve em mim uma poesia

meus olhos aguados
escorrendo selvagem
nutrindo salgado,
banguela e doce,
minha menina
que vai indo

por aí
colhendo arroz
correndo
amor
por aí





a menina

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Parto Natural

Sou sua ave
.....Suave
.......A pousar

...............Apesar
........Das verdades
Que a minha vaidade
..................Olvidar
............................Ouviram
...................................O que eu nada disse?
............................................Nada disso mais
.......................................................Faz sentido
Tenho sentido
Que ao pousar
Estou decolando
Com asas de metal
.........................................Turbinas a siringes
.........................................Meu canto
...........................................No meu canto
..................................................................Vai calar
Então parto
..................de asas e braços estendidos em uma nau:
.................................um suspiro
..............................................uma fotografia
..............................................................água e sal

sábado, 16 de julho de 2011

Detalhes dos seus retalhos - Parte II



O sol par te

.............É realmente ou ficcionalmente estranho; quando o vejo partir, mesmo de costas, vejo sua fronte e todas suas dimensões. O sol se pondo. Seus contornos pulsando em mim. Sua retidão fazendo-me contorcer. Lembro-me, como em um flash, de quando tive coragem e passei meus dedos pelo portão de uma casa qualquer. Caminharam entre os intervalos da grade. Sentia o frio do toque e o cheiro de ferro. O gesto de uma criança distraída. Eu era feliz vivendo aquele instante. Meus passos de iniciante... Brincando com as pedrinhas no chão. Nem sei por que, é sempre as vezes que eu amo você inteiro a meia luz.

Cor do texto
Nudez

................Retiro a espessa camada de súber que me recobre. Respiro. Você retira minha dor, atira-a de um precipício. Recolhe-me em seus braços, colhe uma flor. Planta em mim. Um crime sem suspeitas, cúmplices, vestígios. Um jardim secreto de segredos meus, tão seus. Céus! Eu me proíbo. Eu o permito. Valorizo sua imensidão, esta que preenche minha pequenez e todas minhas lacunas, vácuos, frestas. Vazios, enfim. Quase explodem. Placenta e Big Bang e eu recomeço cercada por estrelas. Lindo, lindo, lindo! Saio do ventre inacabada, mas com estrelas prontas nos olhos. Suspiro!


Desafinação bonita

................Minha casa da dó, da minha casa dou a ré, minha casa é de mi, minha casa não tem sofá, minha casa é o sol, minha casa é lá, minha casa é de si. Você canta sem acordes, sem notas, sem instrumentos. Você me toca com as pontas dos dedos. Arrepio sem me arrepender. Um dó sustenido, eu só no seu esconderijo. Sua bochecha da vontade de morder. Seu pescoço me convida. Você lê um trecho daquele livro em voz alta. Vira música. Não me vê, mas eu estou cega. Vejo coisas e cores, seus sabores. Sentimentos graves. Para me fazer dançar, desafinada. O contorno fino da sua mão é dono da imensidão do meu olhar.

7 Eros

................Eu me desisto, mas não consigo. No meu baralho sempre falta uma carta, e eu não sei jogar. Mal posso parar e já cansei de não andar. Meu coração sente falta de um pedaço, de uma válvula, de uma veia... Do sangue que não quer correr. Como eu chamo isso que me faz cócegas e me arranha ao mesmo tempo? Não tenho tempo pra te respirar, não tenho ar pra viver sem te ter. Sou toda amor, cheia de tropeços. Amor que sufoca, ofusca, quer ultrapassar-me, dar-me... Predisposta a amar, que sou. Faz sol. Sou soul. Amar, intransitivamente. Objeto, pessoa, nada... Simplesmente amo complicadamente tudo. Não o precisamos chamar, ele vem sozinho, sem pedir licença. E nos invade, amém. Amem intransitivamente, congestionantemente. A batida brusca não deixará nenhum morto tragicamente. Apenas vítimas, dele que é divino. Sinais verdes. Sou pedestre e aprendi a voar. Mergulho, não aprendi a nadar. Andarei de fusca quando tiver azul pra comprar. Sinas amarelas. Viro páginas de um livro em chinês. Decifro símbolos que desenhei no cimento. Em cima de mim, no balãozinho do pensamento, há um moço bonito que me olha bonito, sorri bonito e me ama feio ou bonito e por todos os lados. A carta que faltava era um sete de copas. Meu deus! E meu moço não tem rosto. E eu sou o resto do que eu fui e do que serei. Sereia que voa e não sabe cantar. Encontro deuses nos meus sonhos de não ser só. O moço bonito vai embora, porque existe borracha e eu sei apagar o que não é. É ra uma ave zzz. To com sono e vou dormir. Talvez cure minha lucidez. Talvez mate lúcifer. E sonhe com o seu rosto. E sinta cócegas...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Detalhes dos seus retalhos - Parte I



Formigas nos calcanhares

................. Nem sei o porquê, hoje é um dia tão normal. Sentei no canto da cama, olhei pela fresta da janela, nem chuva nem sol. Mas lembrei de você. Pra variar. Lembrei-me de você, que eu não conheço. Mas me conhece tão bem, tão lindamente. Cheio de poesia. Cheiro de mar. Tem um matinho no seu cabelo! Você, às vezes, esquece-me. Eu sinto tanto frio. Mas me engano. É minha distração. Você sempre está. Meus pés estão formigando. Às vezes, quando você ta feliz demais, sua voz desafina. Eu costumo não me acostumar com sua presença silenciosa. Sei que é bobagem, então giro para o outro lado. Consigo dormir. O colchão afunda - não consigo me livrar daquilo. Só você sabe. Mas não me conta. Nem insisto. Acho que é aquele negocio de respeitar o outro. Mas você é tão eu mesma que sou o outro. Apago a luz, pois a parede tem cor. Desligo-me e consigo ouvir o que o silencio me diz. É muito bonito, tenho vontade de contar no seu ouvido. Então, dançaríamos. Seu cabelo cheira goma de mascar com hortelã.



Tornozelos molhados

..................Distraio-me como flor. Lá fora o homem corta a grama. Lá fora a mulher separa o lixo. Lá fora a criança gira. Lá dentro de mim tem um passarinho. Seu sorriso faz mais covinhas de um lado. Olho em baixo da cama. Tenho esperança de achar uma pista. Eu, que ignorei o grilo verde. Era de plástico. Não gosto. Não achei uma pista, mas sai correndo com os pés no chão para o ver voar. Ando tão perdida, não sei o que fazer. Tenho medo. Mas você sempre tem uma lanterna na bagagem. Dividimos o peso e tombamos na grama. Rimos. Olha, você tem uma pintinha no tornozelo! Posso chover, eu nem ligo. A linha ta ocupada, posso ver o sol. Você me o é. Por favor, não me despreze justamente por eu ter confessado. Isso é tão comum e tão duro e louco. Tão amarelo.

A hora da cor

......................Então, eu pergunto-lhe que horas são. Então, seus olhos me olham parecendo uma oração. Sua prece é para que eu não solte os balões. Para que eu fure não os pulmões. Para que eu encontre as soluções para os problemas que eu inventar. Sua prece é para que eu sempre invente. E tente. O tempo não importa, e o vento vai soprar por entre suas persianas. Você sempre me faz abrir as cortinas para ver. O meu templo é o que pulsa. Eu o vejo. Consigo sentir o gosto das suas cores livres no ar. Quando lembro, eu sorrio.

Primavera e alguns mistérios

....................Você disse pra não ter vergonha e contar sobre quando fugi para sentir a grama e o ar. Eu estava tão morta, só você que me vive sabe. Lignificada, pediu-me e eu não me esqueci de não esquecer a palavra. Coloquei uma roupa com a qual eu pudesse respirar. Caminhei até a praça. Sentei no verde. Fechei os olhos lentamente, meu cabelo começou a balançar. Meus olhos molhados de sentir cada célula morta. Eu, que estava lignificada, reaprendi a sentir a vida em mim. Chorei, acho que de felicidade, ao ver as crianças dando seus passos de iniciantes e brincando com as pedrinhas do chão. Uma vontade imensa de dizê-las que as amava. Eu amo o que vive! E se o sol ardia nos meus olhos, eu não me importava, agradecia. Encarava-o de frente, queria toda sua luz. Só agradecia. Deusdocéu. Eu era toda gratidão. Era primavera, enfim.

Mergulho eterno

................Sua mão tem um jeito incrivelmente, magicamente meigo de tirar os fiapos de cabelo que caem levemente sobre os olhos. É quase um balé. Também sou bailarina quando danço na varanda da casa de uma vó. Flores em pequenos vasos, bolo de milho quente e aroma de café. Muitas histórias, uma senhora só. Um livro grosso pra não perder a fé. Uma cadeira que balança. Um rio nos fundos pra eu nadar. Nunca somos os mesmos. A vida balança e eu mergulho. Você tem a toalha nos ombros.

quarta-feira, 2 de março de 2011

aos oitenta, andando de bicicleta - com lingerie vermelha.

............ Até encher de calos, ela me disse. Meu Deus, meus olhos ficaram molhados. Olhou-os diretamente, com seus olhos de quem viveu e sente a vida a cada passo trêmulo e cansado, profundamente e fixamente “Ficávamos até de madrugada, mesmo! Eu aproveitava o que podia. Até o pé encher de calo, sabe? do asfalto, sabe! - E sorria com os olhos e rugas - aproveite muito, querida”. Paloma não deve ter entendido o porquê da minha comoção. Mas engoli. Logo que a senhora saiu da loja, eu e a Pá nos sentamos meio molengas e voltamos a conversar ou reclamar sobre nossas paixonites e chiliques e da vontade de ir embora pra comer, ou pra ir embora mesmo, ir. Entende-me. Chega de batatas travadas na garganta. Quero gargalhar, quero muito. Eu tava querendo sair e encher meus pés de calos, tirar as malditas sapatilhas que dão muito chulé, tava cansada de ver as pessoas passarem através da vitrine, entre manequins e plaquetas que dizem promoção, mas nem são. Eu é que me sentia na prateleira como ponta de estoque, levatudo, grátis, brinde de loja de 1,99 - que é de dois reais, muita mentira, queridos. A bala de troco. Que dá carie. Tava precisando que aquela senhora, a Neusa, me olhasse nos olhos e me falasse sobre seu carnaval e sobre viver. Nós dançaremos muito, em alguma vida, bem descalças. E na outra vida você vai comprar sutiãs bem sexys, não como aqueles dois que você comprou, beges e moles. Eu sei que os peitos caem e esparramam com os anos, e ficam difíceis de juntar (como a senhora me disse e eu ri sincera como suas palavras). Mas nós iremos dançar com sutiãs vermelhos e firmes, até amanhecer! Mas... Ah, como eu queria sair correndo! Sair correndo mesmo que os peitos que eu não tenho balançassem demais. Correr de mim, dos outros, dos rostos e de todo o resto! Do resto que eu estava comendo. Tem que lutar pelo arroz e feijão, nega! Tem que lutar, tictac e meus músculos flácidos. Tictac e a merda do meu pessimismo, do meu desanimo comigo e essa rima desnecessária, pra acabar! Você não prometeu que seria diferente? Que você IRIA, garota. E eu preciso ir. E não paro de me apontar o dedo, e a arma; e a alma me aperta. Pra começar, eu to nem ai para os vocativos que me serviriam. Garota. Pf, você não tem 15 anos. Neusa tinha uns 80, bem linda. E entrei nisso como quem foge do assunto. Como quem foge. Desarmados. Cheios de alma, que dá carie. Com dor de dente e chulé, assim não dá. É, não ta dando. To bancando a engraçadinha sem graça, mas ta difícil respirar esses dias sem cheiro. Tédio – por que o mundo corre. E eu to parada assistindo. Não gosto de ser platéia, literalmente. Palco, te quiero! Preciso me aplaudir, coitadinha. Ai, ai. Que preguiça, Macunaíma! Vou ser psiquiatra e ganhar muito dinheiro. Um cadarço matou enforcada uma menina. O jornal me mata enforcada. O jornal e as amantes que matam a filha do cara com um cadarço de tênis. Um outro cara, em Porto Alegre, que saiu atropelando ciclistas, “o atropelador de ciclistas” – como pronunciou o jornal (como se fosse uma profissão) – ele deve ter achado que também iria ganhar muito. Muito sei lá o que. Não sabemos o que fazer com isso que temos nas mãos, a vida. Então, olho para os meus pés calejados e com chulé das 19 horas - de moça que trabalha em loja e tem que usar sapatilhas chatas – e fujo, na imaginação. Só não fujo de bicicleta, pois aquela nova profissão pode estar com tudo! Nem corro pra não balançar meus não super peitos. Eu danço de sutiã vermelho, e até de madrugada! Nem fujo de tênis, pois tem cadarços – e existem amantes pelo mundo! Mas faço tudo isso... Nem que seja só na imaginação, só por que a Neusa pediu! E não devemos desconsiderar o que uma garotinha de 80 anos nos diz... Não mesmo, pode ser fatal! Ainda mais quando ela tem nome de remédio pra dor de cabeça!

sábado, 29 de janeiro de 2011

desesperar-sê




sábado, 15 de janeiro de 2011

Toda poesia que ficou perdida nos copos de cerveja


eu vejo seus quatro olhos
e todos eles são lindos

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Você vai piscar e eu serei azul


Não, não é isso. No entanto, é. Apesar de serem doces esses olhos seus, não lhos consigo olhar diretamente. Desvio. E sei que não é pura mentira queimando mentiras frias. Não tenho culpa. Talvez tenha, mas não a assumo. Não posso. Se segurá-la irei derrubá-la. E as culpas que carrego, o faço, pois posso mostrá-las estendidas em minhas mãos e olhos. Olhem, olhem essa sujeira que alguém chamou de sujeira e aceitei ser lavada por ela, para me sentir límpida - ou para ser poeira e passar despercebida num mogno velho qualquer, de uma casa amarela velha qualquer, fazendo um velho qualquer tossir e morrer por não poder enxergar a microscopia que o suja e suja seus lenços de vermelho. Não quero culpas pelo chão, nem que as carregue por ter no sangue esse imã que atrai essa palavra dúbia e dissimulada e cruel. Desculpas pedidas sem sentido; e você insiste em pedi-las para que se sinta redimida dos pecados do mundo. Culpas perdidas no sentir. Oh, mas quero tanto que ultrapasse essa barreira dogmática, essa palavra pecadora: pecado. Pedaço de dor engolida a cada pausa. A cada passo o pus escorre por todos seus poros que não existem - seu hermetismo insiste. Você tem a culpa escondida na sola dos pés para que a perca a cada passo trêmulo, e eu não consigo suportar. Tem amor na culpa que fica pelo caminho. Meu deus, tem amor na sua dor! Não a entregue diretamente ao solo. Ao menos a deixe sentir a queda, a atmosfera que existe entre suas mãos e o chão, entre seus olhos e as calhas: as lágrimas que caem para que você se levante. Não entregue sua solidão diretamente ao céu. Uma balança que adora extremos. Oh, mas não devemos ser imparciais. Oh, mas devemos escolher um lado. Oh, não fique em cima do muro. Oh, que merda é essa! E se a minha escolha não tiver lado? Em cima do muro o ar é rarefeito e eu conheço a ausência – e que esta não seja confundida com solidão que é tão cheia de tudo. E danço sem respirar. Um pé atrás do outro para não cair. E eu me divirto até que tombe para algum extremo. Tremendo, não é medo, mas frio. Falta-me sua companhia e me falta o amor nos seus olhos e então eu sei que já esta na hora errada de eu olhar no relógio certo e abandonar esse tempo que eu compartilhei com sua solidão cinza. A minha é púrpura! E eu me vanglorio! Ignoro que sei que não caberiam 4 pés numa indecisão. Chove roxo e então eu posso nascer no jardim entre gramíneas e pragas e flores e insetos e suas antenas. Capto o bater das suas asas. Preciso que caia para que eu o sinta respirar. Minha crueldade estúpida é apenas obsessão por sua falta de amor, e de ódio. Sua imparcialidade que eu não desprezo me despreza silenciosa e eu quero gritar, pois acho linda sua independência do meu ar pra respirar. E eu vou morrendo sufocada. Por falta de a...
Você não tem dor e teu amor não fica pelo caminho. Você não carrega culpas e minhas desculpas o são apenas nove letras formando uma palavra que carrega outra, que sobrecarrega aquela. Lá onde você vive não há muros, nem lados... Pois você não os criou. E eu odeio tua independência porque o amo. Nem sei quem é, o criei, não consigo sentir o ar sujo que elimina de suas narinas, mas sinto que rouba o ar limpo o qual eu respiraria. Sístole, diástole; sístole, diástole; sístole... diástole.....insisto...dias. Até parar. Até par. Ar, ar...ar.................................................a

Enquanto eu fecho meus os olhos que são dois, você apenas desvia ímpar.