domingo, 26 de dezembro de 2010

Pseudometas para 2011


Pois bem, minha irmalma, Jozi (http://www.olugardascoresescritas.blogspot.com/), indicou-me (desafiou, melhor dizer) a alistar cinco ou mais metas para 2011. Pois mal, ein! Não costumo ser boa em fazer listas ou planos além mente. É que é assim: sou flor que gira. Mas no fundo adorei. Pô, Talitha! Tava na hora de organizar essa bagunça... Hoje mesmo falei pra minha mãe: Sabe mãe, não sei o que vou ser. E isso profissionalmente, emocionalmente, aparentemente, e muitos entes que não sei e que são tudo a mesma coisa nada. Para mim é muito difícil organizar, colocar as coisas no lugar, quando tudo parece uma coisa só. É que a vida sempre me foi uma seqüência de inconseqüências, muito obrigada. E, na verdade, faço muitos planos, mas tenho medo, pois o relógio gira muito depressa e sempre acabo me assustando com os ponteiros, com os planos que são sempre planos e planos - enquanto eu sou tão esférica (às vezes saio rolando). Meu dios, viu só... Já to enrolando! Ir direto ao ponto não é comigo. Além de que, tenho problemas sérios com os pontos, finais principalmente. Mas vou começar e vou ver no que dá... Sempre é assim: começo a escrever e simultaneamente descubro o que tem aqui dentro, ou o que não tem. Na verdade, irei me auto-escrever, pois este blog, por hora, é bem pessoal...é meio intimista, ou tímido. Ao menos por enquanto. Outra coisa: morro de curiosidade pra saber no que vai dar essa minha vida! O incerto é muito sedutor com seus olhos que olham pra todas as direções. 2011 é filho que esta por nascer: mistério e curiosidade (espero que tenha os olhos da mãe).

Metas para 2011 - Vou me desafiar com estes asteriscos que não me são simpáticos e com 2011 que não parece um número simpático (chega de classificar as coisas como simpáticas ou não simpáticas com critérios sonsos)

* Primeiramente: Como metas são quase necessidades, cito uma: preciso libertar minha arte. E isso me é sempre um nó na garganta e em todo corpo e alma. É o meu grito que precisa de voz. O tictac não espera... Está na hora de eu fazer algo por mim verdadeiramente. Exige-me coragem e entrega. Preciso de um empurrãozinho, de mãos para me orientarem ou que soltem as cordas que amarram as minhas... Sei disso, e não tenho vergonha. Que 2011 me seja uma descoberta doce e cheia de arte, puro atrevimento. Quero me pintar com a minha cor: vou descobri-la... Deve ser a mistura de várias outras. Deve ser.

* Amor! Quero amar muito e ser amada. Chega desse amor guardado, que coça!

* Permitir-me. Não gosto, mas sou moralista comigo mesma. E deixarei de ser, pro meu bem, amém!

* Minha pieguice: Não fazer do tempo meu senhor, e nem de projeções o tato, nem do amanhã o agora. Há tantos livros nas estantes... Há tanta gente pra eu plantar flor dentro e pra me plantar flor... Tanto ar em tantos lugares pra eu respirar... tanto pra eu escrever. E eu preciso. Que eu possa...

* Perdoar a dor e quem me dói, e o mundo que me arde nessa sensibilidade sem fim.

*Mostrar muito meus dentes, abrir muito meus olhos e coração e sacudir o esqueleto!

* Continuar de mãos dadas com a felicidade, com a poesia e com quem a tem na alma.

*Equilíbrio

* crescer, enfim.

Ficou meio sem sal. É o que tem pra hoje! Tem dias que é melhor sem tempero mesmo, nego!
Eu citei a essência, pois pode ser que o superficial mude... E tem todo o direito!
Temos todo o direito até mesmo de sermos errados, se formos verdadeiramente.
É que, às vezes, gosto tanto da vida com sua falta de razão...
Sei, não fui direto ao ponto nas minhas metas,

não tenho ordem,
Não adianta, sou assim e pronto
E ponto,
"Desisto" cheia de autodeboche!

Ps: Pseudodesculpas




quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ela era aurea que ofusca colorido

Olha, disse Laura, vou destruir as allfaces no almoço. Olhei e vi a carne viva em todos os rostos. Laura vomita constantemente. E a carne viva me dá fome. Ela, às vezes, toma um drink pra ficar legal, pra vomitar com outro gosto. Eu acho engraçado. Laura tem um olho de cada cor, e um olho de todas as cores. Tirou uma foto - e ela tinha cara de alface, toda verdinha e molhada. Gosta de ficar ao sol, fotossintetisando todas as faces que encontra na sua mente e no seu estômago. Certa vez, olhou-me demais. Não gostei. Outra, parecia que estava com o capeta no corpo e tinha uma cara que eu não sei dizer do que (eu nunca sei): ela era espanto e milagre. Depois, chamei-a pra tomar um chá feito ingleses. Mas era verão e tomamos uma cerveja mesmo. Nem gosto. Eu acho engraçado. Fiz isso só pra saber que quando parecia o capeta era por que tinha visto a face Dele. E ela me falou normalmente, como se tivesse dito: estou com fome ou eu sinto que vou explodirpoisnão cabe mais isso tudo aquidentro ou hoje você esta tão chato com essa camisa verde azeitona. Achei engraçado. Laura era toda esquisita e muito engraçadinha. Disse que nunca mais se olharia no espelho. Eu não entendi porque ela é tao bonita. Eu gosto dos seus dentes. Gosto também dos seus cílios. Mas me disse eu preciso e saiu correndo. Tem uns dias - principalmente quando chove - que penso que ela não sabe o nome daquilo que precisa. Deve ser triste. Eu acho meio triste. Laura disse que se morresse hoje, iria morrer triste. Entao eu arranquei-lhe os olhos. L Chorou de alegria. Escorriam lágrimas de sangue e um líquido escuro. Ela disse que o gosto era bom e que agora estava em paz. Abrace a árvore, Oswaldo! Eu não fiz isso porque dá vergonha. Vamos correr como os pássaros, Oswvvv? Ela gostava de ficar fazendo esse barulhinho vvvvvvvvv com os dentes raspando nos lábios. Quando ela passarava eu achava muito doce. Eu a olhava com meus olhos de Laura e eu era muito feliz. Mas ela foi correr como os peixes e o lago reflete reflete reflete etelfer. Ela não voltou nunca mais de lá. Às vezes, fico às margens do lago observando com meus olhos de Laura e vejo-me refletido com os olhos de Laura. Quando ela me visita sempre traz azeitonas em conserva, flores e livros velhos e um engovvvvvvvvvvvv. E ri muito. Meu Deus, como Laura sorri e eu choro alaranjado. Mas quando é mais pro vermelho eu tenho vontade de sair correndo e abraçar as árvores. Douradinhas, quase amarelas. Hoje, quando o silêncio era tão profundo que ouvia apenas o barulho das alfaces sendo trituradas por meus dentes, lembrei dela de um jeito diferente. Eu imaginei um dia frio. Nós tomavamos chá. Laura tinha a pontinha do nariz vermelha. Disse que estava com fome. E a única coisa que eu fiz foi mostrar a minha face. Você também é, Oswvv. Troquei as meias e fui ler. Eu acho muito engraçado. Oswaldo não sabe pontuar, nem conjugar direito os verbos e repete as palavras e perde a ordem – faço uma bagunça. Elaurea. Quase não pisco. Tomo um drink pra sentir o gosto. Sinto falta dos cílios.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A beleza da poesia é o feio dos c,egos

Ele tinha o rosto todo transfigurado, feio, bem feio, por assim dizer. Sendo assim, eu sempre imaginava seu coração batendo. Ele era, então, um coração que batia; até o dia em que visse, em toda sua face, apenas a beleza da vida sem contornos - o próprio coração que pulsa. Tenho em mim superficialidades, e as odeio da mesma forma que ama-se os defeitos com ódio. Eles têm me sustentado e derrubado, Clarice. Mas são meus, e tenho precisado de algo externo para me sentir segura. Algo externo sem deixar de ser interno. Ter uma não posse. Dentre o nada o tudo, e dentro. Respiro uma atmosfera triste e primitiva, mas pode ser que seja drama (pois há o colorido na transparência do ar). Ah, salve o drama que nos salva! Eu sei, sinto-me roubando seu nome às vezes, Haia – mas não é isso, (tenho o seu no meu), é porque também sou vida e toda a poeira cósmica, também sou estrela e também o és – principalmente nas noites solitárias em que o céu é abrigo, mas cela. Livres, selamos nossa solidão. Sou tão errada na minha insistência de dizer que sei, eu sei, mas sou. Ele disse adeus e eu aceitei. A beleza da poesia é o feio dos c,egos. É o feto que morre vivo, sem hesitar. E vai embora. E eu aceito o inacabado.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pressa


Tempos de comer o bolo quente

De engolir a bala

da arma

que dispara

no coração

o coração

e mata

e desata os nós


nos-
SOS tempos

de andar disparado

sem olhar

para os lados

e o céu

seu
tempo

sem tempo
para respirar
pirar
pirar
pirar
pirar
pirar
parar

a gota de suor estática nas testas franzidas

que não cai

caio

caio

Caio

pensamentos rápidos

e cinzas

olhares sem direção

sem dizer

são

São?

o quê?
(insanos)


Cidades lentas

Para entender

Velocidades

Rodam
Rodam
Rodam
Rodam
Rosas

Que não posso ver

brotar


Preciso

Queria dizer

Algo mais

Mas


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

"Nosso povo não conhece a juventude e mal desfrutamos de uma infância curta. De tempos em tempos surgem exigências segundo as quais devemos assegurar às crianças uma liberdade especial, uma proteção especial, o direito a um pouco de imprudência, um pouco de travessura, um pouco de diversão, esses direitos devem ser reconhecidos e incentivados; as exigências surgem e quase todo mundo as aprova, não existe nada que merecesse maior aprovação, mas também não existe nada que seja menos concebido em nossa vida, aprovamos as exigências, empenhamo-nos em cumpri-las, mas logo tudo volta a ser como era. Vivemos de tal modo que uma criança, assim que é capaz de correr um pouco e distinguir o ambiente a seu redor, precisa tomar conta de si como um adulto; as regiões nas quais, por motivos econômicos, precisamos viver espalhados, são extensas demais, nossos inimigos são muitos, os perigos que nos expreitam a cada canto, inúmeros - não temos como proteger as crianças da luta pela existência, se o fizéssemos, seria este o seu fim prematuro. Em meio a essas razões trágicas desponta uma outra, sublime: a fertilidade da nossa espécie. As gerações - e todas elas são numerosas - atropelam-se umas às outras, as crianças nao têm tempo de ser criança. Embora outros povos tratem as crianças com todo o cuidado, embora construam escolas para os pequenos, embora as escolas recebam, diarimente, uma enxurrada de crianças - o futuro do povo -, ainda assim são sempre as mesmas crianças que, por um longo tempo, dia após dia, saem de lá. Nós não temos escolas, mas exércitos de crianças, piando ou chiando alegres enquanto não conseguem assobiar, cambaleando ou rolando com a força do impulso enquanto não conseguem correr, arrastando consigo o que estiver pelo caminho enquanto não conseguem enxergar, nossas crianças! E ao contrário do que se vê nas escolas, não são as mesmas crianças, não, são sempre, sempre outras, sem fim, sem interrupção, mal surge uma criança e ela já deixa de ser criança, mas logo atrás dele espremem-se os rostos das novas crianças, indistinguíveis na multidão e na pressa, com as faces coradas de alegria. Sem dúvida, por mais bonito que isso tudo possa ser e por mais que outros com razão possam nos invejar, não temos como proporcionar uma infância legítima às nossas crianças. E isso tem consequências. Uma certa infantilidade perene, invencível caracteriza o nosso povo; em franca contradição ao que de melhor temos, ao nosso juízo prático infalível, às vezes somos acomedidos por uma estupidez total e absoluta, a bem dizer, a mesma estupidez inconsequente, extravagante, orgulhosa e leviana que se observa nas crianças, tudo isso em nome de uma pequena diversão. E se nossa alegria naturalmente já não se manifesta com todo o ímpeto da alegria infantil, é certo que ao menos algum resquício desta ainda sobrevive."

Retirado do livro ''Um artista da fome", Kafka.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010



Esse é o nome para o que estou sentindo.

(Pintura de Clarice: sua cores também são minhas palavras)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Pó e pé no asfalto - cada filho nascendo é um coração que é uma boca gritando


Nossas conversas são os espaços entre as palavras não ditas, são versos ditos com o peito descompassado, são os verbos sentidos com os olhos fechados. São insanos, insones. Um céu azul e um pássaro voando enquanto seu bico atinge meu coração. O vento sopra forte nos meus cabelos, você sussurra algo que eu não entendo. Meus olhos estão molhados e a chuva molha meus pés. Grito calado meu peitogritandoquerovomitar -quero voz e ar. Abro a boca e o som não sai, fecho os olhos e o sol se vai. E meu coração é uma boca gritando muda. Olho para a janela para ver se há céu, mas pássaro atinge o vidro, e tudo são cacos, vácuos, ecos, ocos, gritos e uma mão invisível para calar.
Com os pés molhados, caminho no asfalto 40°, respiro fundo, com a boca prateada de fita adesiva tssssssss a cada passo e fumacinhas calefacientes, furinhos na bochecha sorridente, irônica.
Chego ao sertão de solos rachados – os quais se identificam com o meu semcor-ação- com cara de fome interior, retiro a pele da sola queimada, admiro os calos com a boca calada, como-a e sigo como uma retirante dos solos queimados com a carne viva em contato com a morte. (É meu sangue alimentando meu caminho hemofílico de diálogos interiores e de dias inferiores ao sol que cega, à solidão que seca.)
É a minha conversa lado a lado com meu un-inverso, com meus multiversos mutilados sem teto e chão, sem nexo e são. São exclamações, não há palavras, são interrogações, e você sempre coloca vírgulas em baixo dos meus pontos finais; como quem diz: você pode continuar, ainda que podre, há carne nos pés para você queimar, ainda há sangue para você marcar seu caminho! – eu que nunca quis deixar rastros. E quando insisto com outro ponto final (vital), você acha mais dois. Então, são reticências me dizendo que há algo mais. Algo são coisinterrogações. Destruo-as e transformo-as em exclamações (sustos) – estas que habitam meu peito, o qual não pode gritar
?!:...
Não há palavras. São gestos versos de vida e morte. Sigo na esperança no ponto vit-fin-al
Signum.
Então, sou trapos e tripas com o sol na cara. São vertigens e oásis imaginários. Sou carne viva dura queimada com o céu na alma e abaixo dos pés. É meu universo invertido vertendo da nascente o verso que nasce da, o verso que nasce e, o verso placenta ah! E escorre no turbilhão das águas para alcançar a foz, a voz, a vez.
Nos passos de pós, no passado de pés, agora são joelhos e articulações, bacia, vísceras, um último suspiro, pulmões. Olhos fechados e vejo o que esta implícito. Tudo consumido no asfalto consumado. A terra estremece surda, todos os vidros quebram, pois finalmente há som, mesmo que não haja ouvidos. O cristal permanece intacto.
Resta um coração gritando na terra úmida de sangue

E nasce uma flor amarela

E não tem fim

A minha conversa com versos sem fim

Com meu multiverso de universos, enfim

São filhos nascendo (ele gritam!) para me libertar

Vomito minha cabeça, peito e estômago

Vôo leve como um saco plástico no asfalto

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Prova de amor



É que A mãe sai do serviço cansada e fica na fila do mercado pra me trazer AS laranjas.
Eu retribuo com outra prova de amor:
Laranja! Eu te amo! Um beijo acidoce na tua imperfeição redonda.
No entanto, tu tens o destino traçado, e eu sou deus.
Sou teu último suspironhack.
Devoro-te toda, com todo prazer.


O que a gente ama, quer dentro, para ninguém roubar.
E depois, quando a luz no final do túnel apagar, eu menina bichumana, serei toda húmus,
com todo prazer.
E crescerei laranjeira.
Bem ligeira, fá-la-ei nascer novamente.
Recompensa.
Compensa
Nãocompensa
Nãopensa.
Minha mãe sabe exatamente como me agradocicar.
Mas não sou madura ainda. Sou um tanto azeda.
Minha casca, que brilha (tão novinha, no entanto, tão enrugada, pecado!), ainda é grossa.
Devo estar protegendo demais meu sumo vermelho.
Laranja.
(e no nosso destino comum,
os vermes também vão amá-la.
Da forma mais bruta e pura, eles - que não tem coração
E amam. )
Sou verme.
Sou acidoce tal como (e como!) laranja.
Sou verme-lharanja.
Deixo rastro entre os dentes.
Sou difícil de sair.
(Sorria no espelho e verá meu atrevimento)
Sou difícir, ein.

Ela tem o mar no nome, a minha mãe. A ela, não preciso provar nada. É que, às vezes, assustada e tímida, descobre tudo - olho fixo nos olhos dela, mergulho nas suas profundezas, afogo-me toda.
Mas nunca falta ar.

sábado, 25 de setembro de 2010




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domingo, 19 de setembro de 2010

Café mais amargo





Nem oi
Nem tchau
Minha amiga,
Estamos nas entrelinhas
Estamos nos entreares
Estamos nós entretodos
Estamos entretidas em viver,
Porque morrer é tão mais acessível.
Pura semente, plantamos nosso jardim, puramente.
Encontro você lá pra tomarmos um café e comermos muito, como de costume.
Deitaremos na mesma rede, desengonçadas, e veremos o céu e as estrelas.
Abraçamo-nos nas entrelinhas
Abraçamos as estrelinhas
No diminutivo para caber entre nossos braços.
Levarei algumas comigo
Pois não sei se vou voltar
Não vamos mais voltar.
E então, minhas mãos serão o céu e o infinito.
Como um pedido para vivermos um pouco mais.
Para vivermos.
Mais.
Sozinhas.
Menos.
Sozinhas.

Ração humana

Sem nenhum valor agregado.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Violência no jardim




E eu gosto tanto (esta expressão é tão difícil!), pois a sinto antes da sua chegada (isso confessa nosso amor – muitos amores não devem ser confessados), e a cada passo que se aproxima de mim, mais aguçado meu olfato, eu sinto mais intenso o seu cheiro, nas ruas, nos ares, nos outros, nossos troncos, folhas, flores pétalas sépalas ginec- eu e a primavera.
Ela sussurra levemente em meus ouvidos e anuncia. E eu agradeço com sorrisos que pedem para serem. A palavra equinócio é só pra cumprir o seu papel, nada mais.
A mãe da menina, cheia de ternura, comprou o tecido, tecido bonito aquele, simples, mas bonito. A menina, cheia de candura, menina bonita ela, queria o vestido pra rodar. Ele era todo flores. Ela era toda cores. A menina e o vestido.
Muito cuidado, muito trabalho, a mãe queria ver a filha rodar, a mãe queria ver o céu nos olhos floridos da filha. Filha que roda olhando pro alto.
Ela só queria rodar no jardim, queria o vento e talvez uma folha caindo no seu rosto.
É 23 e a mãe a entrega o vestido, o qual já estava sendo há muito preparado, mas era inverno e menina colorida no cinza é pecado. Moças, mães e seu pudores. Maçãs, afagos e seus pecados.
O primeiro contato, as pontas dos dedos e a textura leve do tecido, o fechar dos olhos, e o sorriso e o êxtase, para sempre nunca mais será o primeiro. Menina roda de dia com o sol na cara, pede “por favor” para o outono fazer uma folha cair no rosto e partir assim que o fizer, pede desculpa pela indelicadeza. Já o vento vem sem pedir licença. Às vezes gosta dessa brutalidade, com vergonha. Faces vermelhas e toda feminilidade.
O céu gira na sua íris e a mãe, sempre cabeça baixa – uma humildade de opressão, vê o céu pela primeira vez nos olhos da filha. Mãe pisca os olhos...
Faces vermelhas e toda feminilidade. O vento e toda sua brutalidade. Sem pedir licença, invade-a. O primeiro contato. Menina é vento por dentro e não pode chorar porque água no vento evapora. Só fica o sal. Logo você que era tão doce. Logo você, menina. E o vento foi embora, ele que veio pra te sangrar. A mãe não te olha mais nos olhos, agora só há chão. Menina não pode mais sonhar.
Vestido florido não cabe mais, a criança-vento cresce dentro de você. Vestido preto você vai vestir, é morto o céu nos olhos, é duro o chão o qual tem pra pisar. E você é quem vai costurar. Mãe foi alcançar o céu.
O inverno chegou sem ter verão. Criança Ventania já tem roupa pra vestir. O pano florido, o primeiro contato, a ponta dos dedos, o primeiro contato, o vento...fizeram-te nascer. A mãemenina abre o baú, e entre fotos, flores secas, papéis amarelos, esta o vestido. Vestido é manto para o batismo. O solo vai te abençoar, criança. Menina vai rodar com a Ventania nas mãos. Menina tem o mundo nas mãos.
Menina planta uma flor na terra.
Menina sai voando.
Mas já é quase setembro.



sábado, 28 de agosto de 2010

Metafísica

Antes de tudo,
eu sou.
Depois de tudo é mistério.
Depois de nada
eu nasço
e tudo pulsa,
e tudo muda,
e tudo flui,
e tudo eu fui.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Afins

Fone de ouvido serve para não compartilhar o som com os outros, para não invadir o mundo externo com o mundo particular, não é egoísmo, senão intimidade. Mas compartilhar este objeto é compartilhar um mundo particular comum aos dois que o fazem.


........Afinidade é compartilhar o fone de ouvido (afeto), e com um susto sem adrenalina, sentir a música e o pulsar do coração da companhia entrarem na mesma frequência. E então, sem palavra alguma ser dita, as almas e os corpos, em um mesmo ritmo, ritmo, ritmo, tum tum, tum tum, tum tum sorriem sem mostrarem os dentes, mas com os olhos. Fecham-nos. E num mesmo embalo os corpos dançam, contudo, sem movimentos bruscos. Nada deve quebrar o tudo- a leveza do momento, a sintonia, o estado de graça, a ressonância de suas vibrações internas.

.........Afinados, sentem o som e todo seu universo de sentimentos em notas musicais e instrumentos - os quais se diferenciam pelo timbre (os corpos diferenciam-se pelas unhas pintadas e pelo comprimento dos cabelos, os quais teimam em cair sobre seus olhos sorridentes - é o vento que sopra sem fazer barulho!). Os instrumentos tocam e as mãos acompanham o verbo. Os olhos molhados ( a música é marulho afinal), como se não suportassem sorrir e chorar a mesma emoção, gritam.

Tum........................... tum, tum........................................ tum, tum.............................. tum....

..........As ondas ressonantes agora quebram insones na areia. Uma praia deserta de mar e amar. É sol aqui, lá dentro é solidão. O grito torna o agudo grave e digno de súplica por salvação. Sem dó, sem mi m, a música acaba e o silêncio queima. As mesmas mãos, com a dor do mundo, desfazem o gesto e retiram os fones, e trazem consigo um rastro salgado dos olhos doces.

Ela diz: Dói ouvir o silêncio. Ele diz: é assustador sentir as batidas arrítmicas do coração.

Eram jovens, meu deus, não aguentariam tanto amor.

Disseram adeus e seguiram, ele para o seu ponto de partida, ela- que não tinha um caminho anterior- ficou parada. Ele, por não suportar, voltou a ouvir as canções desafinadas que ouvira outrora e que não lhe roubavam tanto o sangue. Ela sangrava progressivamente, a música – aquela - havia travado no repeat.

Preciso coagular.

Aperte o pause, por favor.

(e chega desse estrangeirismo!)



segunda-feira, 12 de julho de 2010

de Pequenas Epifanias

Deixe que ele respire, como uma coisa viva. E tenha muito cuidado: ele pode quebrar.
Como um bebê ou um cristal: tome-o nas mãos com muito cuidado. Ele pode quebrar, o momento presente.
Escolha um fundo musical adequado — quem sabe, Mozart, se quiser uma ilusão de dignidade. Melhor evitar o rock, o samba-enredo, a rumba ou qualquer outro ritmo agitado: ele pode quebrar, o momento presente.
Como um bebê, então, a quem se troca as fraldas, depois de tomá-lo nas mãos, desembrulhe-o com muito cuidado também. Olhe devagar para ele, parado no canto do quarto ou esquecido sobre a mesa, entre legumes, ou misturado às folhas abertas de algum jornal.
Contemple o momento presente como um parente, um amigo antigo, tão familiar que não há risco algum nessa presença quieta, ali no canto do quarto. Como a uma laranja, redonda, dourada — mas sem fome, contemple o momento presente. Como a cinza de um cigarro que o gesto demorou demais, caída entre as folhas de um jornal aberto em qualquer página, contemple o momento presente.
E deixe o vento soprar sobre ele.
Desligue a música, agora. Seja qual for, desligue. Contemple o momento presente dentro do silêncio mais absoluto. Mesmo fechando todas as janelas, eu sei, é difícil evitar esses ruídos vindos da rua.
Os alarmes de automóveis que disparam de repente, as motos com seus escapamentos abertos, algum avião no céu, ou esses rumores desconhecidos que acontecem às vezes dentro das paredes dos apartamentos, principalmente onde habitam as pessoas solitárias.
Mas não sinta solidão, não sinta nada: você só tem olhos que olham o momento presente, esteja ele — ou você — onde estiver. E não dói, não há nada que provoque dor nesse olhar.
Não há memória, também. Você nunca o viu antes. Tenha a forma que tiver — um bebê, um cristal, um diamante, uma faca, uma pêra, um postal, um ET, uma moça, um patim — ele não se parece a nada que você tenha visto antes. Só está ali, à sua frente, como um punhado de argila à espera de que você o tome nas mãos para dar-lhe uma forma qualquer — um bebê, um cristal, um diamante e assim por diante.
E se você não o fizer, ele se fará por si mesmo, o momento presente. Não chore sobre ele. No máximo um suspiro. Mas que seja discreto, baixinho, quase inaudível. Não o agarre com voracidade — cuidado, ele pode quebrar. Não ria dele, por mais ridículo que pareça. Fique todo concentrado nessa falta absoluta de emoção. Não espere nada dele, nenhuma alegria, nenhum incêndio no coração.
Não espere nada dele, nenhuma alegria, nenhum incêndio no coração. Ele nada lhe dará, o momento presente.
Deixe que ele respire, como uma coisa viva. Respire você também, como essa coisa viva que você é. Contemple-o de frente, igual àquela personagem de Clarice Lispector contemplando o búfalo atrás das grades da jaula do jardim zoológico.
Você pode estender a mão para ele, tentar uma carícia desinteressada. Mas será melhor não fazer gesto algum.
Ele não reagirá, mesmo todo pulsante, ali à sua frente.
Respire, respire. Conte até dez, até vinte talvez. Daqui a pouco ele vai começar a se transformar em outra coisa, o momento presente.
Qualquer coisa inteiramente imprevisível? Você não sabe, eu não sei, ele não sabe: os momentos presentes não têm o controle sobre si mesmos. Se o telefone tocar, atenda. Se a campainha chamar, abra a porta.
Quando estiver desocupado outra vez, procure-o novamente com os olhos. Ele já não estará lá. Haverá outro em seu lugar. E então, como a um bebê ou a um cristal, tome-o nas mãos com muito cuidado. Ele pode quebrar, o momento presente. Experimente então dizer “eu te amo”. Ou qualquer coisa assim, para ninguém.

Caio Fernando Abreu...

Esse texto me foi passado como um presente por um dos meus anjos...J.E
Um anjo Vermelho em um céu azul.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sol e solidão


Sentada com as pernas cruzadas no meu pequeno e secreto jardim

Penetro as mãos na terra e pinto o chão de barro em mim.

Sou o solo para você plantar amor.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Meu não conto

Vagamundo imundo inundo-te de amor.
Surdo-mudo-escuta-me-diz-me-tudo-explica-me-o-absurdo-sê-me na lucidez.
Mate meu luto vivo de vidas que matei(me).
Viva meu sonho morto que mataste quando virei as costas e enxerguei os cegos.
Cortei-te os pulsos e ouvi os gritos dos que calavam com tuas mãos que tapavam
vozes vivas de verdades mentidas por covardes senhores semcores ecoavam meu sentir e o avesso.
E o aviso foi dado de seis lados, a sorte foi lançada contra a parede e morreu por não existir, mas nem saiu sangue. E eu que achava que tinha azar, descobri que meu dado era oval e saiu rolando.
Rolando na grama é quase romântico,
Mas sempre dá uma coceirinha, né?

Clarice, te soul.

Cores-Livres-Ares Refletem-te(me) o Infinito. Corro, Encontro-te(me)...

Tua Alma Límpida Inventa-me Toda Hojeontemanhã, Amor-te-vivemim.

domingo, 4 de abril de 2010