(26/02/2012)
A.sentou-se no banco amarelo. No fundo havia um jardim verde escuro. Fixou o olhar na rua que corria à frente com pernas de passarinho. E olhou dentro, e escorreu fundo. Pessoas e rodas e risos giravam ao redor. Cirandas de crianças sem pernas. Descansou os olhos e eles tornaram-se duas bocas em gritos. Quando os abriu, estava em uma mesa enorme com as pessoas que almoçou e jantou quando suas pernas ainda não tocavam o chão quando sentada na cadeira, e balançavam descontroladas no ar. Era um teto quebrado, inclusive as telhas. Todos os pratos preenchidos, uns mais, outros menos. O prato dela era um filhote de passarinho assado. Ela nunca comeria. E cada um olhava para o próprio. Vezenquando um olho verde de menino olhava o bichinho no prato dela e depois os grandes olhos dela. E desvia o olhar para seu suco de maracujá. E vê-lo beber a calma a fazia sorrir de canto, mesmo com um buraco na barriga. Trasvezes um olho de jabuticaba de cabelos curtos e leves de menina ou mulher que come pouco e é bonita, oferecia um pouco da sobremesa. Mas a boca de A. estava fechada. Os outros se lambuzavam tanto que tapavam os olhos com molho escuro de feijão. E conversavam: A. não quer comer porque não quer. E mastigavam farturas que na verdade eram perninhas secas de ave. Mesmo sem comer A. vomitou na mesa inteira alguma coisa abstrata. E as telhas rachadas caíram sobre as cabeças. Agora A. estava no banco amarelo, sentada com os pés que já alcançavam o chão. Alguns estranhos sentaram ao lado. Houve os que apoiaram a cabeça em seus ombros murchos e partiram. Mas alguns, com roupas em trapos, tiraram do bolço um pão e o dividiram em dois. E ela se lambuzou de pão seco. Mesmo com um buraco no peito.
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