quarta-feira, 13 de junho de 2012

Húmus corlírio

Disse para eu girar com os tecidos coloridos soltos em trapos no corpo. Disse que se misturariam sabores e fiapos. Disse que, em algumas ocasiões, eu rasgaria pedaços dos panos. E que minhas mãos teriam energia e força para isso. E eu não me surpreenderia tanto assim, pois eu estaria dançando durante os acontecimentos. E que as partes desnudas seriam pelos e pele arrepiados, lembrando-me grama. E viria o vento, pra lá e pra cá, nas gramíneas. Eu rolaria nelas. Perderia mais alguns trapos. Meu corpo seria arrepios com cheiro de mato e terra. Haveria pequenos galhos nos meus cabelos armados. Eu passaria minha mão cheia de terra no meu rosto cheio de espanto, lavando-o com o lar das minhocas. Sorrindo, meus dentes pareceriam mais brancos. Por causa do contraste. As cores do que eu vestia estavam pintadas de um ritual infantil e um pouco demente. E o que eu não vestia mais era minha nudez me acobertando do que eu não era. Disse que eu veria meu rosto refletido em um lago cinematográfico, que era, na verdade, uma poça em baixo de um balanço velho de um parque abandonado. O buraco que acumulou água para refletir rostos transfigurados e reais, fez-se dos tantos pés de crianças que freavam para parar uma brincadeira. Crianças são sérias e sentem a vida. Adultos dizem saber das coisas. Mesmo que não saiba do que se trata exatamente, prefiro aquela. Mas eu sinto uma coceirinha. Dessa vez não é por causa da grama. Disse que eu mergulharia na pocinha de água terrosa, e seria um lago fundo da Europa medieval. Sairia com os panos de outrora grudando e pesando no corpo. Algumas partes desintegrar-se-iam e ficariam boiando na superfície. Outras se impregnariam no corpo formando desenhos com texturas intangíveis. Um tigre correndo na floresta de dentro dele. Um passarinho pousando nos galhos da minha cabeça. Descobrindo flores entre os fios de cabelo. Bicando minha pupila para eu ver como ele vai crescer bem alimentado. Disse que eu rasgaria meu rosto como se fosse tecido. E que iria embora com a correnteza. Chove cristalino lá fora em mim.

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