sexta-feira, 29 de junho de 2012
dedos e lunetas
Uma órbita ocular jazia no meio da palma da sua mão. Queria piscar, mas estava sozinha, sem cílios, sem pálpebras, sem palavras. Silenciosa e centralizada. E você a observando, na periferia do que era, com um medo visceral, querendo lhe dizer algo adstringente. Mas o buraco negro no lado esquerdo da face adentrava às suas outras e já não sabia qual era a que lhe pertencia. Tantas faces, tantas órbitas, agora todas desequilibradas na mesma e única mão com seus exatos cinco dedos, que eram como pernas estendidas de bailarinas acenando estrelas no céu. Sentia, dilacerado, a falta de um dedo - é desafiador ser ímpar. Não há posse sobre rostos furados. São escorregadios. Findando a mutilação em um aplauso, o omelete de pupilas e órbitas transfigurou o trágico em constelações que orbitavam suas crateras. Voavam cristalinos. Na mão, no lugar antes ocupado, ficara a chaga. Orgulhosa, deixava fluir o vento até os seu olhos quando as mãos envergonhadas eram atraídas pelo rubor do rosto. O ar os atingia apenas porque a mão era um alvo furado - pelo dedo par que se omitia.
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