terça-feira, 26 de junho de 2012

sobre um ovo verde desossado


Quando se invertem os papéis, e se amassam as pessoas, e engolem-se vidros, e quebram-se rostos, eu sou o oposto. Caindo da janela, eu plano feito uma folha de papel A4 reciclada. Apalpada pelo vácuo, recuo no caos. Com textura de veludo, perco meus ossos. Eles saem pelas minhas orelhas úmidas. Dói razoavelmente, mas me torno tãotãotão leve, leve, feito pena seca de ave em extinção, que a dor cai pesada no chão e morre pisoteada por sapatos de couro legítimo. Meus ossos caem nas cabeças das pessoas. O som do contato ecoa no oco delas. Mas eu não ouço nada, e não as toco, sou onisciente. Meu tímpano ainda sangra e meu equilíbrio também fica um pouco defasado (nessas horas, eu aproveito, danço desafiadoramente). Alguns atravessam os olhos dos que olham, confiantes, para o céu pré-temporal. Algumas, nem sentem, pois têm um amortecimento de última geração comprado com o cartão de crédito, sem limites, em um shopping limpolimpolimpo e branco, muito branco, e vermelho. Minha consciência pesa, pois meus ossos densos tombam violentamente seres que andavam distraídos. Alguns levantam-se, ajeitam o paletó e seguem (cavando o asfalto). Outros, nervosos, brutos, selvagens, roem o osso que lhes acertara. Eu plano tridimensionalmente aparentemente parada. Mas a terra esta girando bêbada de chá verde e shakes e vinhos. Quando embriagada, eu penso em reações químicas: um osso, algo tão quase concreto, transformando-se em gotas de chuva. As crianças são alvos das gotinhas. E brincam, nas poças dos moços que seguem(.), com pés descalços e macios e enrugados. As rugas formam caminhos e labirintos que eu percorro rolando feito uma bola de carne, de segunda, amassada (para ocupar menos espaço). O seu labirinto é responsável pelo seu equilíbrio... Eu li em um livro de biologia, certa vez. E me perdi calculando o peso na balança. O exato é exatamente um ovo. Pode ser sua refeição, ou um animal insignificante piando significações. A terra é elíptica e eu faço planos redonda. Como uma galinha grávida.


Um comentário:

Anônimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=dU0QszM9nQk&feature=related