domingo, 26 de agosto de 2012

Sobre partir

Preconizo meu precipício. Haverá, inadiavelmente, algum princípio dentro desse denso nada em que me impulsiono. Estarei sempre, obliquamente, no limite entre meu calcanhar, a superfície do morro (verbo ou lugar?) e o ar. O disparar a que me proponho, é um peito descompassado e um estômago oco. Ãh, um sufoco, folego, fração de segundo, sussurro. Uma vida simples de quem está disposto a cair ou a voar - a partir de um passo. 

De dança.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Plantei uma pipa nocê



Uma pipa (português brasileiro) ou papagaio de papel (português europeu), também chamada de papagaio, pandorga ou raia, é um brinquedo que voa baseado na oposição entre a força do vento e a da corda segurada pelo operador. É composta de papel que tem a função de asa, sustentando o brinquedo. Conforme o modelo pode contar com uma rabiola que pode ser de sacola, que é um adereço preso na parte inferior para proporcionar estabilidade, também pode usar uma linha. É um dos brinquedos mais utilizados por crianças, adolescentes e até adultos. Na maioria das vezes, não há um local apropriado para a prática desta brincadeira. Os pipeiros, como são chamados, acabam brincando em meio a fios de alta tensão em ruas e avenidas.(Retirado, preguiçosamente, do Wikipédia) Poesia disfarçada.

Atravessei, caleidoscopicamente, um corredor dentro de um envelope lacrado com cola bastão, um remetente em branco escrito à mão ao lado de um selo de um lugar nenhum colado com saliva amanhecida.  Silencioso, apenas os barulhos dos passos, que ora avançavam, ora retrocediam, ora giravam, como as cores atemporais imersas em um relógio sem pilha. Cata-ventos. Toc, toc, toc, tic, tac, tic, tac, tic, toc, toc, toctoctocotoctoctoctoctctctccc. Tanto caminhei, com a energia do sol, para conseguir ultrapassar a perfeição de ser imperfeito e aceitar a imaturidade de poder crescer. Três gaivotas rodopiando no ar, enroscando-se em pipas, livrando-se das fitas presas às suas asas, sendo soltas pelas pequenas mãos que seguram, lá em baixo, as cordas. “Quer gelatina de sobremesa? Eu posso poder não ser séria, e não querer o poder. Há sagus nas minhas células justapostas ao oposto da matéria.” E rir quando quiser e puder; chorar quando precisar e quando pudor, sem vergonha, e sentar no meio fio, e cair do meio termo, e tremer em maio, e dançar no frio. E bater a cabeça no meu feio. Frear o desespero. E desmaiar, só pra se lembrar de que dá pra levantar (voo). Concomitantemente, na parede ao lado, dentro de um quarto, o pintor doente, olhos fundos, contornos roxos, jogava tinta sobre a tela ao ritmo do meu caminhar. Era um corredor branco. Todo branco. Mas meus pés, que antes pisavam em tijolos, estavam tingidos. Tinta de árvore. Onde, sem medo, eu me enroscava. Pipa, em meu português, tão simples. Um papagaio de papel, feito de árvore, repetindo sussurros da cidade em meu ouvido, fez-me entender as não intenções de viver sem tentáculos para capturar as tentativas frustradas de acertar o x da questão. Eu quero a, sem questionar. Sementes. Faz mal eu plantar palavras assim, desse jeito desavisado? Dançando com a parede e com a respiração dos olhos fundos. A brisa daquele mar ainda penetra, em ondas, pelo meu nariz. Minha cabeça adentra uma sacola, ao vento, para dar estabilidade aos fios desconexos do que penso. Vou contar uma coisa: em baixo da pedra no meio do caminho, tinha uma carta. Só hoje consegui ler o que estava escrito (em mim).  Eu não gosto do exato, não, não é exatamente isso. Das ruas sem curvas, das portas sem trincos, das orelhas sem furos, de espelhos sem trincas, das pessoas sem vidas, das doenças sem curas, dos olhos sem olheiras, das bocas sem sede, das mãos sem calos, das pedras sem peso, eu não sei. Sobre mim. Sobre mim, tem um ninho de passarinho. Um bicho sozinho com seus ovos, catando vento para se alimentar. Eu o imagino dando vento mastigado para seus filhotinhos. Quem dera ter a leveza dos seus ossos. Quem dera ser a pena. Quem recebera a sutileza do seu pousar no ombro? O que viveu a sua tela enquanto eu parei? Qual é a cor estática? Qual o movimento da mão do homem à espera de um passo? Para onde seus olhos olham? Atravessam as paredes, e aceitam um corpo parado em um lugar aonde, perspectivamente, vai-se. E se não der pé? Pintou em mim asas com o roxo das suas olheiras. Agora é calmo seu rosto. Não há um corredor, não há perspectivas – o tempo morreu com um cerol no pescoço - só qualquer espaço, não há paredes para serem atravessadas, só uma dança com a música que você sussurra  na minha orelha de papagaio. Da pra repetir uma palavra? Uma história atrasada? Minha pandorga nunca repete, é o mesmo, mas com um tom diferente. Vamos sustentar nossos brinquedos. Há sempre uma carta em baixo da pedra e da palavra. Cê lê pra mim? A gente fica tão leve assim, com a cara nua, empinando pipa no meio da multidão, empenando asas pra tirar os pés das ruas, e tirando da testa as rugas de alta tensão com um beijo de pipa.


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

um som pra acalmar o tom de um cristal trincado
lavo meu rosto com um mar sem sal
sai o sol pra marcar o rubor do rosto
que é o oposto do que é 
ao contrário