sábado, 29 de setembro de 2012
escutei,no escuro, um silêncio esculpido
Quando silenciava, geralmente não entendia. Como esse caos barulhento no peito se mostra tão plácido na face? E os olhos, encolhidos, buscam enxergar algo que acomode, que diga, desenhe as palavras na forma e na intensidade que são, sem roubar-lhes a candura, a plenitude, a verdade. Quando a mão no ar precisa de argila pra moldar, neste caso, incompletudes. A testa enruga, as palavras, a poesia, ficam presas, penetram em algum vão, curva, buraco dentrodentrodentrodentro, desconhecidos pelos mapas anatômicos, pelos sons, pelas imagens. Onde o sangue não penetra, os tecidos não preenchem, o ar não chega. Ai. Ai é o lugar onde cavam em mim as palavras que silenciam meu rosto, paralisam meus olhos, enquanto, refletido nas minhas pupilas, o mundo gira, bocas se mechem, carros passam, a televisão vomita algo, e eu finjo olhar uma coisa que, ao menos, existe. Enquanto o que se vê é anterior à pele. Dentro de mim, tortura-me a vida por dizer. Tem uma esquina, tem uma vírgula que escutaescutaescuta o que eu acabo de ouvir: "Você faz noção do buraco que tem em mim por tanta falta que sinto de você? Meu vazio tem nome..." E eu respondo que há pessoas que nos declaram seus vazios, tão cheios de vida impregnada, para que eles nos preencham. Silenciosos.
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