terça-feira, 27 de novembro de 2012

O cadarço, às vezes, amarra até doer o peito do pé. No entanto, a dor é diluída quando vemos que a força do nó prende nossos passos aos nossos verdadeiros caminhos. E, esse mesmo, é o que amarra seus balões quando você voa descalça. E seu peito, o outro, possui, então, um Coração.
- Ei, tira esse invisível feijão preto apodrecido do teu dente, guri. Sorria. Sacode os nós desses cabelos estáticos. Samba essa saudade de nós ao meu lado. Molha esses teus olhos cobertos por resistentes remelas transparentes. Veja. Desamarra esses compridos cadarços gelados. Rasga esse teu peito protegido por cruéis armaduras medievais - de plástico. E ama, ama, ama... Também as levezas duras de ser gente, ou bicho. Ama tu, Imperativo, como se tu fosses o rei daquilo que pulsa no nada mais. E me conjuga às tuas fragilidades. Fortemente sentimentais. Que eu também quero ser rainha de copas de árvores da tua sala de estar só. Ser ninguém, pássaro que pousa delicada,mente no ar.

Werther

Que a vida humana é apenas um sonho outros já disseram, mas também a mim esta ideia persegue por toda a parte. Quando penso nos limites que circunscrevem as ativas e investigativas faculdades humanas; quando vejo que esgotamos todas as nossas forças em satisfazer nossas necessidades, que apenas tendem a prolongar uma existência miserável; quando constato que a tranquilidade a respeito de certas qu
estões não passa de uma resignação sonhadora, como se a gente tivesse pintado as paredes entre as quais jazemos presos com feições coloridas e perspectivas risonhas ─ tudo isso, Guilherme, me deixa mudo. Meto-me dentro de mim mesmo e acho aí um mundo! Mas antes em pressentimentos e obscuros desejos que em realidade e ações vivas. E então tudo paira a minha volta, sorrio e sigo a sonhar, penetrando adante no universo.

Que as crianças não sabem o porquê de desejarem algo, todos os pedagogos estão de acordo. Mas que também homens feitos se arrastem como crianças, titubeando sobre a face da terra, e, exatamente como elas, não saibam de onde vêm e para onde vão, até mesmo que não têm um fim determinado para suas ações, igualmente governados por biscoitos, balas e chibatas, ninguém faz gosto em acreditar. Quanto a mim, parece-me que não há realidade mais palpável do que essa.

Concordo de boa vontade, até porque sei o que vais me dizer a respeito disso, que são exatamente essas as pessoas mais felizes. Essas mesmas que, como crianças, vivem o dia-a-dia sem pensar no futuro, arrastam suas bonecas por aí, vestem-nas, despem-nas, e volteiam cheias de respeito diante da gaveta onde mamãe chaveia os bombons, e quando logram êxito, fazendo com que ela os dê, devoram-nos estufando a boca e gritando: Mais!… Sim, estas é que são criaturas felizes!

A coisa também vai bem para aqueles que dão um título imponente para seus trabalhos vagabundos, ou até para seus sofrimentos, e os descrevem como obras gigantescas feitas em prol da salvação e da prosperidade do gênero humano… Feliz daquele que consegue proceder assim! Mas aquele que reconhece em sua humildade onde tudo isso vai parar, quem vê quão gentil é o burguês ao ornamentar seu jardinzinho e elevá-lo à categoria de paraíso; quem tem noção de como o infeliz se arrasta infatigável pelo caminho, sob seu fardo, interessado apenas em contemplar por um minuto a mais a luz do sol – este, asseguro, também é tranquilo e, ao construir um mundo dentro de si, é feliz do mesmo jeito por ser humano. E então, por mais limitado que esteja em seus movimentos, ele mantém no coração a doce sensação da liberdade, sabendo que poderá deixar o seu cárcere quando quiser.

Os sofrimentos do jovem WERTHER (Goethe)
Penso que o ato, mesmo sem ação, de sentir é o 'pensamento' mais livre. Sem impregnações do passado ou futuro, é a Criação do não pensar ou pensar sobre o agora, sem ter que, necessariamente, pensar. É fluido, leva o ser nele mesmo a ele mesmo. Você parte de si e chega no que verdadeiramente é. Sem precisar de ninguém, ou bagagens, mapas, etc. Pois há uma continuidade infinita entre o que verdadeiramente existe. Você não é nada, além do sentimento do mundo. Sinto o ato de pensar. Desconstruo-me em ilimitados grãos, construo-me vazia na, caleidoscópica, imensidão.
Sempre acreditei no vento que contorna nossas rugas.
Seja lá qual for o chão sobre o qual pisamos, ou quais são as marcas que o sol deixou na nossa cara, só se sente aquele que já teve a sua exposta, como o chão, pra ser pisada, ou vivida. O vento alcança as tuas curvas marcadas, não te preocupes. Essas coisas Miúdas só dá pra sentir quando é grande (lá dentro).

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

a liberdade (voraz) primeiro nasce nos olhos. depois flui (leve) para nenhum lugar definido. livre, atemporal, aespacial. e amor.