segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Canos de escape.



Psssh.
Sobre esses cacos há uma alma que dorme.
Sobre esse corpo nebuloso,
Sonhos esmerando eufóricos por vida.
Sobretudo, eram sobre nada seus cantos sem acordes.
Além da sua face adormecida, havia seus olhos insones.


Sobretudo, aqueles olhos tão afáveis.
Um par ímpar.
Singular na sua pluralidade de mistérios.
Espelhos da alma clamando por sorte.
Sua íris,
Lembranças do sol a nascer.
Agora tristes. Riso descontente.
O “ser” inexato.
O “não-ser” tornou-se regra.
O sol é poente.


Silêncio.
Há uma criança espartana dançando ao seu redor.
Ao som da sonoplastia que seu pranto produzia.
Em sua mão, sua adaga.
Em seu gesto, o golpe.
Agora minha alma dorme.
O Leviatã acorda.
É noite sem luar.


Lágrimas pelo cano de escape.
Lástima.
Almas mortas cantando canções vermelhas.
O refrão pedia alforria,
O resto eram algemas.
O fogo queimando lá fora,
Por dentro pedras frias.



Silêncio, silêncio.
Podia-se ouvir que seu coração ainda batia.
O motor ainda funcionava,

As dores foram expurgadas pelo cano de escape.


A noite negligente partiu,
Levando consigo sua agrura.
Agora é sol nascente.
O galo cantou “có có ri cóitada”
O céu, com pena, chorou comigo.
Lágrimas pelo cano de escape.



Epifania.
Um anjo pousou no meu leito.
Entregou-me suas asas.
Sussurou minha sina.
E eu, como um passaranjinho, voei.
Vai passar devagarzinho essa dor, vai em paz.
Bem quietinho.
Silêncio, silêncio.



Agora é uma criança que canta.
Um corpo e uma alma formando acordes.
Sonhos sendo vividos euforicamente,
E abertas as janelas da sua alma.
Sobretudo, aqueles olhos tão afáveis.
Sobretudo, o riso contente.
Explica-se pelo sol poente que trará o luar.
O luar!

Pssssh.
Sobre estes cacos, agora, há apenas uma adaga caída.
Junto-os.
Vôo longe.

No céu há uma alma viva.
Com as mãos cortadas entrego os cacos ao mar.
Sobre a areia da praia há uma alma que sonha.
E sente seus olhos, tão afáveis olhos,
Sendo puxados pelo luar.
E voa.

No céu há duas almas amantes.
Nos olhos duas esferas brilhantes,
Refletindo o amar
Sobre o mar
Sobre o amar... Nada.
Sobretudo, aqueles olhos tão afáveis.

Eu ri do galo,
“có có ri cóitado”
Que tinha asas e não sabia voar.

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