Novembro 2011
Acordei sabendo que hoje o dia seria incrível. Aprendi um jeito sobrenatural de tirar as minhas botas sem precisar puxar o zíper. Fiz uma lista de compras: abacate, gelatina, aveia, adoçante, ritmoneuram, limpar o coco do cachorro. Às vezes, finjo que sou organizada. Mas dura um minuto. E é tão assustador - quanto tudo que é breve. A luz me assusta mais que a escuridão. As duas torres, os 15 min, a alegria de pobre, a ferrari na janela, a picada de mosquito, o yakult, a minha não solidão. Hoje é dia de Smell like this spirit. É o dia que meu intestino vai funcionar direito. E eu comerei uma salada de frutas depois que a glicose tiver feito do meu sangue uma garapa.
Eu disputo um dólar com um bebê que não sabe nadar, mas não afunda, nem asfixia. Estou morrendo afogada e esta sendo divertido. A não ser pelo fato de o coco do cachorro estar boiando e ficando cada vez mais longe. E eu não cumpro minhas obrigações. Hoje eu vou contar que adoraria fazer o papel de uma puta urbana que se droga e tem pensamentos suicidas e dança rock and roll rindo e chorando ao mesmo tempo - sorriso salgado, o nosso - e ama tomar banhos de mar. Eu amaria fazer o papel de um coco de cachorro no sapato do engravatado. Eu quero incomodar. E doer. E feder. Hoje vou protestar pelo direito de todos terem acesso a um bom desodorante. Hoje eu vou contar ao mundo que eu interpreto para o espelho e para ninguém. Hoje eu vou dançar com minha calça mais furada Come as you are como alguém que tem o pescoço deslocado e os cabelos compridos. Vou dançar muito. Eu só quero tentar. Mas eu não serei breve. Eu quero minhas pernas mais finas. Eu vou correr. Mas eu não quero ser breve. Hoje eu quero ser contemporânea. E estrangeira. Eu pintei minhas unhas de azul metálico. Eu escrevi em uma nota alaranjada florescente uma coisa bonita para um amigo e coloquei dentro de um livro azul. Amanhã lhe emprestarei. Eu só quero que ele seja feliz. E eu só não quero ser breve. A arte é minha eternidade.
Não é inspirada em vanguardas européias, nem no renascimento, é em tudonaflor na dor no elevadornococo do cachorro e na solidão. Tomei chá sabor natural e isso me deu a sensação de que eu deveria fazer isso mais vezes. As redes sociais estão tornando as pessoas raposas com pensamentos associativos e não mais lineares - hoje eu li. Recicle e filtre. Infiltre-se. Isso é muito complexo e eu só quero ser simples. Eu só quero tentar. Tá sendo difícil, pois as pessoas são tão dificeis. Persona que sou. A questão é que nem as coisas, nem as pessoas são TÃO. Gosto de intensidade. Um tango. Apesar de não fazer parte de meu repertório musical. Um dia interpretarei uma puta urbana que dança tango e tem pernas finas e sensuais. Não tenho repertórios, nem respeito nem rápido. Rapto gestos simples de pessoas cansadas no ônibus, de donas de casa escolhendo frutas, de roqueiros ao microfone, de uma mulher triste colocando adoçante no chá natural. Das putas eu não rapto nada. Elas são inarruptáveis. E eu sou um réptil. Hoje o dia rastejou rapidamente. Estou com pantufas e com a barriga cheia. E não gastei 1 dólar. É incrível! Mas eu sempre cricricri em quase nada mesmo.
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