domingo, 16 de junho de 2013

Protestos

Não tem nada a ver com bandeiras. Nem mastros, tá tudo bem mais embaixo. Aqui, ao nível dos nossos olhos de gente que é Povo. Quem nunca ouviu: é o fim da picada, a gota d'água e etc? Durante a semana passada li um texto de Andre Borges Lopes 'Jovens vão às ruas e nos mostram que desaprendemos a sonhar'. Mostrei a um amigo, e discutimos sobre isso. Sobre as lutas por causas especificas e seus resultados – ou melhor, não resultados. O cerne da árvore é podre, galhos não darão bons frutos, pensamos. Ele foi escrito dia 9 desse mês, logo, pouco antes de 'tudo isso' que tá acontecendo. Toda essa zona, esse vandalismo, desse povo burro, alienado, carregando morfina nas veias e cofres de aço guardando esterco sobre as costas curvadas. NÉ? Não. Eu choro e tenho raiva e revolta e orgulho. O meu coração e cérebro não serão anestesiados. Nem todo o resto. TÁ TODO MUNDO LEVANTANDO OS BRAÇOS, e não é pra louvar porra nenhuma. Tá todo mundo com as pernas em movimento, correndo, e não é de 'trombadinha', nem de ninguém. Tá todo mundo expondo a cara a tapa. De tanto soco, saliva, escarro, esporro, chute, água de merda - de tanta acidez nossa vontade de 'proteção' foi dissolvida. A gente pagou pra ver. Pagamos, pagamos, pagamos, The Rich Brazil. E quando li esse texto que citei, concordei desiludida. Pô, tava mesmo desiludida. Sentindo que vivíamos numa ditadura, escravidão disfarçada no consumismo e em todo glitter das propandas do 'Sonho Tropical', e estávamos aceitando tudo isso, tapando nossos olhos com máscaras macias para dormir bem. Mas eu não dormia e não durmo direito faz tempo. Meus olhos expostos ardiam a vida, a vida tardia, a vida pra depois que nos vendem. Ai, apareceu o grilo verde, a esperança, dias depois de quando eu havia constatado minha desilusão. NÃO DESAPRENDEMOS A SONHAR. E esse sonhar a que me refiro, não é alienado, infantil, ele é visceral PORQUE ATUA SOBRE A REALIDADE. Sobre o sentar na mesa pra comer pela manhã, sobre o caminho até o trabalho, sobre o dormir com o coração em paz. “O fundamental não é lutar pelo direito de fumar maconha em paz na sala da sua casa. O fundamental não é o direito de andar vestida como uma vadia sem ser agredida por machos boçais que acham que têm esse direito porque você está "disponível". O fundamental não é garantir a opção de um aborto assistido para as mulheres que foram vítimas de estupro ou que correm risco de vida. O fundamental não é impedir que a internação compulsória de usuários de drogas se transforme em ferramenta de uma política de higienismo social e eliminação estética do que enfeia a cidade. O fundamental não é lutar contra a venda da pena de morte e da redução da maioridade penal como soluções finais para a violência. O fundamental não é esculachar os torturadores impunes da ditadura. O fundamental não é garantir aos indígenas remanescentes o direito à demarcação das suas reservas de terras. O fundamental não é o aumento de 20 centavos num transporte público que fica a cada dia mais lotado e precário.” E por ai foi. O buraco tá bem mais embaixo – ele é aqui onde estamos. O que faz com que tenhamos uma noção consideravelmente mais profunda sobre essa escuridão aqui, essa falta de ar, essa água pouca de chuva suja que nos sobra para tomar de vez em quando. Lá de cima, dos jatinhos, é só um pontinho preto. Ou é uma cúpula de um vulcão adormecido, dito como morto. MAS NÃO MORREMOS. A lava tava fervendo lá embaixo. Os tremores começaram. Os gases fedem e entopem os narizes dos que estão 'lá em cima', nas arquibancadas de ouro, os superiores. Para nós aqui de baixo, os Pequenos, esse outro gás, nos servidos gentiLmente pela polícia, não nos atrapalha em nada, vemos bem melhor através da fumaça, enxergamos tudo por detrás do verniz que vocês passaram sorrindo em nossos olhos e pele. Chorávamos por dentro quando vocês, com isso, tentavam tapar nossa visão e limitar nossos movimentos. Nossas lágrimas e suor dissolveram todo esse verniz dourado, que era tinta guache barata. Como nós somos tratados: mercadoria barata. Nos nossos ventres já morreram muitos fetos sufocados tentando gritar. Creio que as causas de protesto não são mais específicas, não são mais causas particulares, individualistas, egoicas, como grande parte da sociedade. O protesto não é mais unicausal. As flechas disparam por todas as direções. Ele é por tudo isso que a gente foi segurando como um vômito. Ai, uma hora você come uma azeitona estragada, e não dá mais. Tudo sai. Há quem ache que é por causa da azeitona. No entanto, é esse alguém que tá numa conserva - Vencida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que bela, lutando pelo futuro de nossas crianças... #vemprarua