Davi fumava uns. Não abria as janelas enferrujadas do quarto no domingo, respirava o cheiro de bebida e cigarro impregnado nas partículas de oxigênio e pó, o mesmo da roupa, geralmente preta, a qual só tirava no dia seguinte, quando tomava banho, pra ir à rua novamente, e comia o resto dos almoços da semana numa louça suja e coca cola no copo de tomate trincado e com o resto da cerveja quente que não quis beber. Partiu pra vodka no gargalo, como um bom ninguém. Shampoo não usava, sabonete basta, não vem me dizer que não, caralho. Achava até bom essa coisa de carne dura meio verde, orelha gelada do frio, se enxugar com a toalha úmida de ontem, ou não, tanto faz, não era dessas coisas, não era um desses que achava ou sentia alguma coisa dizível ou entendível ou que faça a diferença na vida de alguém, de coisas. Davi jogava o cigarro na caneleta da rua. A rua, com ressaca da chuva nossa de cada diamém, levava a bituca pro boeiro, que fedia. Mas, e daí? Fedia, diziam as meninas que se sentavam ao meio fio pra esperar, pra conversar sobre a última transa, sobre a merda que é estar naquela porra de família egoísta, pra beijar os meninos ou quem vier sentar ao lado, ou puxar pela mão, puxar pelos cabelos também, não tá fácil, pra esperar, sei lá o quê. Mas pra esperar. Eu tô indo indo embora, Leila, tô indo. Um relógio fodido, com uma pulseira de couro gasta e fodida, Davi fodido tictaqueava, olhava vitrines fodidas, quase nenhuma, ignorava os olhares das donzelas mal comidas, e andava nem aí, nem aí ó, com sua bota com meia furada e seu bom, apesar de antigo e desbotado, jeans. geaaanz sujo de porra sei lá de quando. Mas bom mesmo é esmagar o cigarro acesso findando no pulso ou na toalha de mesa, ou no farelo de pão em cima da toalha, ou no cinzeiro de madeira herdado do tio de longe da puta que pariu, ou jogá-lo no resto de cerveja quente que ninguém quer tomar. Davi já tomou com cigarro e tudo. No cú, já tomou no cú! Pra esperar. A bota, o dedo fora da meia, pisava numa lajota solta da calçada. aquela água porca sujava sua calça. que moderno, ein. Modernidade, palavra colorida, exata, dúbia, tecnológica, velha. ein? surda, velha surda, pode morrer, tô indo embora, cansei dos teus gemidos, tuas dores tão pontuais, teus roncos, teu sono pesado e fedido e esse cheiro de sebo, teu passo lerdo sobre esse chão de madeira e essas tábuas velhas rangendo, vai te foder e depilar esse bigode branco e nojento. não aguento mais ver esse peito caído nesse sutiã mole, esse varal balançado essas roupas largas verde musgo, bordo, marrom nesse jardim pra mato e anão de gesso e grama fina. Benzinho, Davi, do hebraico, significa O Amado. "Muito atencioso, e apegado à família possui um senso maternal muito forte, é o tipo de pessoa que gosta de se sentir útil e necessário, com isso chega a assumir mais responsabilidades do que realmente pode suportar. Não costuma voltar atrás em suas palavras. Muito ocupado, raramente se permite algumas horas livres para o lazer. Mas deve tomar cuidado em não se tornar dependente ou infantil ao extremo, para isso não deve se pendurar nos outros." (fonte: Google) Sentido nenhum. Davi deveria ser chamado de Fodido, palavra mais sem significado. se é que existe algo além da ausência. Cuidado Davi, deve tomar cuidado. Esse trânsito é muito perigoso para pedestres com ray bans escondendo olheiras e lábios ostentando cigarros, bolsos guardando masso deles amassados e uma nota de vinte meio mole e velha um pouco rasgada e amassada, que que tem a ver, para qualquer um que quer se sentir ameaçado por qualquer coisa. Ele atravessava a rua fora da faixa, excitante. que babaquice, fodido. lendo um livro num banco de cimento. onde eu jogo essa bituca. lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa.